Nas rodas de samba de Florianópolis, eram tocados os sambas que vinham principalmente
do Rio de Janeiro. Até a década de 1970, não era costume entre os florianopolitanos compor
sambas. Mesmo que sempre existindo a figura do compositor, os sambas eram feitos apenas em
festas de famílias e não eram registrados de nenhuma forma. Findada a festa, as músicas eram
esquecidas, junto com os autores.
Os primeiros compositores que foram reconhecidos como tais eram aqueles que faziam parte
das escolas de samba. Mesmo assim, não havia entre eles o hábito de compor para as escolas e nem
sempre apresentavam sambas nos carnavais. Havia uma ou outra composição, mas o mais comum
era desfilar com sambas de escolas do Rio de Janeiro de anos anteriores. E mesmo quando as
escolas desfilavam com sambas locais, nem todos eram catalogados. Em 1956 houve o registro. A
Copa Lord desfilou com o samba “Vem forasteiro”, de Avez-vous. Na década de 1970 essa cultura
muda, e as escolas passam a desfilar integralmente com produções locais.
Fora do ambiente das escolas de samba, não havia quase nenhum compositor. No fim da
década de 1970 e nos anos 80, Aldírio Simões organiza concursos de músicas e de samba de quadra
da Protegidos e Consulado, que incentivam os compositores já consagrados, guardadas as devidas
proporções, das escolas, e estimulam o aparecimento de novos. É desses concursos que surgem,
entre outros nomes, Zuvaldo, João Carlos, Nazareno, Mato Grosso, Josué Costa, Dica e C. Bernard,
o Mickey. Este, africano, morou muito tempo no Rio de Janeiro e Porto Alegre antes de fixar residência em Florianópolis. Mickey era conhecido por ser
um bom compositor e também por ser briguento. Tinha o
costume de impor suas idéias e convicções, mas não
aceitava muito uma controvérsia.
Na Copa Lord, o primeiro compositor foi Avez-vous.
O hino da escola, “Quem vem lá” é cercado de lendas e
boatos. O samba seria da escola de samba Canário das
Laranjeiras, do Rio de Janeiro, trazido a Florianópolis por
Lambreta, membro de uma das escolas de samba de
Florianópolis, e apresentado a Avez-vous e Armandino
Gonzaga, presidente da Copa Lord na época. O samba
acabou por ser registrado com autoria de Avez-vous e
Fogão, ex-goleiro do Botafogo e do Avaí, com breve
passagem por Florianópolis. No Rio, na sede da Canário de
Laranjeiras, a atual diretoria informou não conhecer este
samba. Os fundadores da escola são membros da velha
guarda, mas não foram localizados.
Depois de abertas as porteiras, surgiram outros
compositores como Nelson Wagner, autor não só de sambas, mas de valsas, choros, canções. Nelson é irmão do Tazo, que foi proprietário do Bar do Segundo depois do Seu Secundino.
Em 1978, quando Armandino Gonzaga, o eterno presidente da Copa Lord, faleceu, o
professor Lucas de Jesus, um admirador da escola, compôs um samba de quadra em sua
homenagem, cantado até hoje pela Velha Guarda da escola. Não se tem mais registro de outro
samba composto pelo professor Lucas.
Tião, que surgiu no Morro da Caixa e colocou o bairro Monte Verde no mapa do samba
nacional com seu bar, também compunha, mas não para o carnaval. Suas músicas eram, na grande
maioria, sambas-canções.
Além dos concursos, outro fator que contribuiu para o surgimento de novos compositores é
o pagode, que explode em todo o Brasil na década de 1980. Leonel Januário, Paulinho Carioca, Bira
Pernilongo, Maguila, Jorge Luiz, André Calibrina, Elias Marujo, Mato Grosso, entre outros, são alguns dos mais lembrados compositores de pagode de
Florianópolis. Muitos deles já compositores com passagens pelas
escolas de samba, que se voltam à produção de sambas para
grupos. Não havia motivação, pois as músicas não eram gravadas
e nem executadas em rádio.
Será no fim da década de 1990, com o surgimento de
grupos de samba com uma nova proposta, de cantar sambas mais
antigos do Rio de Janeiro, com uma roupagem diferente do que
era executado em Florianópolis, é que aparecem compositores
novos, como Dinho, Jandira, Fabricio Gonçalves, Jeisson Dias.
Nos anos 2000, a lista aumenta: Dôga, Raphael Galcer,
Guilherme Partideiro, Marçal do Samba, Rafael Leandro,
Marcelo 7 Cordas, Du Kadência.
Alguns compositores como Mirandinha, Cipriano, Waldir
Brasil e Zininho compunham e executavam suas músicas para
serem tocadas nas rádios locais. Essa turma encontrava-se sempre
no Miramar, restaurante que ficava no Trapiche Municipal, na
época bastante frequentado por todos os artistas da cidade, e que
foi derrubado na década de 70 por conta do aterro. Cláudia, filha
de Zininho, relata que ele fez uma carta, assinada por outras
pessoas, e entregou ao prefeito, solicitando que o Miramar não
fosse derrubado. Tempos depois, alterou uma palavra aqui, outra ali, musicou, e saiu um samba com o nome do restaurante.
*Tributo a Armandino Gonzaga
(Lucas de Jesus)
Mas quem vem lá
De amarelo, vermelho e branco
Assim você cantava
Com seu sorriso franco
Hoje a saudade em verso se transformou
Cantando pra um amigo
Que se foi pra longe
Todo mundo viu e chorou
E quando eu me encontro no morro
Por mais que eu procure
Não vejo você
Amigo, viemos pra avenida
Com lágrimas sentidas pra lhe exaltar
Láláláiá, a Copa Lord vem homenagear
Láláláiá, ao Armandino esse amigo sem par
*Miramar
(Zininho)
Digníssimo senhor prefeito
Mui respeitosamente
Estamos diante de Vossa Excelência
Para pedir humildemente
Senhor prefeito
Por favor, mande recuperar
O nosso velho e querido Miramar
Pergunte ao Waldir Brazil
Daniel, Narciso e Dião
E a outros velhos boêmios
E eles também dirão
Que era ali
Que nasciam as serenatas
Era ali que os sambas nasciam
Ao som de um violão
Senhor prefeito
Por favor, mande recuperar
O nosso velho e querido Miramar
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