sexta-feira, 8 de setembro de 2023

O Tempo

Veja como são as coisas. Há menos de 1 minuto, me deu vontade de escrever esse texto sem assunto nenhum em mente. E você está lendo também sem saber do que se trata, pois o título não explica.

O que faz você ler eu não sei. O que me faz escrever também não.

Sou jornalista por formação acadêmica. Não sei se eu fiz jornalismo por ter algo que me fazia escrever ou aprendi a escrever na faculdade.

Aprender a escrever eu aprendi ainda criança. Me refiro a escrever textos mais elaborados. Mais elaborados do que esse.

Algo me faz escrever e talvez até o final desse texto eu e você descobriremos juntos.

Há menos de 1 minuto eu estava no banheiro, urinando. Foi quando me deu a vontade de escrever.

Mas antes de ir ao banheiro eu estava vendo o show de um humorista de stand-up comedy contanto histórias sobre sua vida. Sua infância, sua adolescência, seus relacionamentos. Eu me identificava com muitas dessas histórias. E ao mesmo tempo em que eu me divertia, prestava atenção na construção do texto dele, que era excelente.

Muitos humoristas usam do humor para afugentar seus medos, suas frustrações, suas angústias. Usam do humor como uma válvula de escape das suas dores.

Minha ex esposa costumava dizer que eu era um escritor visceral. Foi com ela que eu aprendi esse termo. Foi com ela que eu aprendi muita coisa. Inclusive, como não me portar em um casamento. Não em uma festa de casamento. Na instituição casamento.

Rodei nessa disciplina e fui expulso do colégio. Agora aguardo novo período de matrícula.

Todo texto precisa de alguém para o ler. Caso contrário, não faz nem sentido ser escrito.

Da mesma forma como fui impactado pelas histórias do humorista, espero que esse texto, artigo, conto, causo também impacte você de alguma forma.

Eu vim do setor de comunicação. Filho de professora de português, jornalista, ex músico e, atualmente, profissional do marketing. A comunicação me rodeia. Me persegue. Me maltrata. Me ensina. Me encaminha.

Foi com a comunicação, ou falta dela, que eu levei um dos maiores tombos da minha vida. Alguém esqueceu de me avisar de um buraco na calçada? Não. Eu que esqueci de avisar a quem andava comigo sobre várias coisas. As minha vísceras haviam se perdido em algum lugar do espaço/tempo.

Por falar em tempo, sinto que é tempo, espero que ainda em tempo, de encontrar minhas vísceras de volta.

Preciso me comunicar mais. A gente precisa se comunicar mais.

Onde foi que eu errei?

Mas a pergunta nem deva ser exatamente essa. Talvez eu não seja o culpado.

Assim como você, leitor(a), talvez não seja culpado(a) pelos seus erros. Pelo menos não sozinho(a).

Muitos erros aconteceram ao longo da minha vida. E por causa deles, e dos acertos também, que hoje eu sou assim, com essa consciência, com esse caráter, com essas atitudes. Dói? Bastante.

Onde foi que eu comecei a perder minhas vísceras? Sempre aprendi que ter suas vísceras expostas e/ou perdidas era um mal sinal. De morte.

E eu não quero morrer. Sei que vou. Mas não quero morrer agora. Quero viver.

Logo, preciso das minhas vísceras. É o primeiro pensamento lógico que me ocorre.

Coloco a mão na minha barriga. Elas estão aqui. Eu sinto. Fisicamente. Agora falta sentir as vísceras metafóricas do elogio que eu ouvia.

Sabe o que mais está dentro de mim? Meu orixá. É como eu chamo meu deus. Esse eu não consigo sentir fisicamente. O que não me impede de sentir sua presença.

E o que eu faço com essa informação de que minhas vísceras estão aqui? Dá tempo de fazer alguma coisa?

Sempre dá. Tem que dar. Já desisti de coisas antes que dariam tempo de serem recuperadas. Havia tempo. O que não havia, talvez, era entender que minhas vísceras estavam ali. Minha força estava ali. E que eu não usei. Não fui visceral quando deveria.

Mas tenho aprendido que dá tempo. Tenho aprendido que minhas vísceras estão aqui. Tenho força. Cansa. Mas eu tenho força. Dói. Dá medo. Mas eu tenho força. E preciso ir com medo mesmo. A dor a gente ameniza depois. A gente cura. O tempo cura.

Esse é o momento que eu começo a pensar em um elo para terminar o texto. Porque eu preciso terminar. E terminar bonito. É um texto. Alguém precisa lê-lo. Você está lendo. Precisa fazer sentido. Se não, não faz sentido escrever.

E a vergonha e o medo de alguém ler? Essa o tempo ainda vai me ensinar a lidar.

O Tempo que já brincou tanto comigo. Está na hora dele ser mais legal.

Já deu tempo. Já deu, Tempo!

Algo me faz escrever esse texto. E agora, no final, talvez você tenha descoberto o motivo.

Talvez eu só quisesse desabafar algo que está nas minhas vísceras.

Descobrirei com o tempo. Com o Tempo.