segunda-feira, 24 de abril de 2023

Meu encontro com Paulinho da Viola

Meu encontro com Paulinho da Viola começa em meados de 1996.

Primeiro contato com Paulinho

Minha mãe tinha alguns CDs de samba. Um deles era Paulinho da Viola (Bebadosamba). Esse foi meu primeiro contato com Paulinho da Viola.

O começo do sonho

Lá pelos idos dos anos 2000 eu consegui um CD do Zeca Pagodinho (Ao vivo).

A partir desse disco eu comecei a estudar mais sobre o samba, os sambistas, compositores e surgiu um primeiro sonho: conhecer esses sambistas que eu estudava.

Instantes depois, questão de horas ou dias, me caiu uma ficha: não sou ninguém e moro em Florianópolis. Qual a chance de eu ter algum contato com Zeca, Beth, Martinho ou Paulinho?

Desencanei desse sonho.

O primeiro (quase) encontro

Em 2008, Paulinho fez um show em Florianópolis. Era uma chance de reviver esse sonho e de ter um contato com um desses sambistas que eu admirava.

Não lembro como eu soube desse show, mas tratei de divulgar a informação para o máximo de pessoas possível. Deu certo! O show lotou, não graças a mim, logicamente.

A parte triste é que eu não consegui comprar ingresso. Muitos amigos foram, o conheceram, tiraram fotos, e eu não.

Era o sonho se desfazendo novamente.

Até fiz uma carta cheia de mágoa, e com total despreparo, para desabafar. Está publicado aqui em meu blog e eu recomendo fortemente que ninguém leia.

Primeiro contato visual

Em 2012, Casquinha, da Velha Guarda da Portela, fez 90 anos. Organizaram um aniversário para ele na Portelinha. Era uma roda de samba com a presença do aniversariante. Eu fui. E pra surpresa de todos os presentes, Paulinho da Viola também.

Apareceu, cumprimentou a roda que acontecia naquele momento, deu um beijo no Casquinha e foi embora. Isso tudo não deve ter demorado mais do que 1 minuto.

Eu sei porque eu estava tocando na roda e não chegamos a terminar a música que estávamos.

Paulinho da Viola bateu palma para mim. Pelo menos gosto de pensar assim.

Quando Paulinho chegou, foi um alvoroço. Todos foram em sua direção. Pudera. Eu queria ter feito o mesmo, mas em respeito à roda e ao Casquinha, homenageado do dia, permaneci sentado, tocando, emocionado. E com tanta gente ao redor do Paulinho, não seria possível qualquer interação.

Tão perto, e ao mesmo tempo tão longe.

O sonho de encontrar com meu ídolo reapareceu e foi embora tão rápido quanto ele.

O não encontro

Em 2019, novamente outro show do Paulinho em Florianópolis. Por algum motivo que eu não lembro qual, não fui ao show. Talvez ainda magoado pela experiência de 2008. Realmente não consigo lembrar o motivo.

O encontro

O tempo passou. Muita coisa aconteceu.

O que era um sonho distante foi se tornando realidade aos poucos. Sem mais almejar alcançar o sonho, alcancei.

Ao longo desses anos, me encontrei e tirei fotos com Sérgio Cabral (o pai, jornalista), José Ramos Tinhorão, Monarco e Cristina Buarque. Teve outras pessoas, mas talvez essas citadas sejam as mais emblemáticas.

Eis que no começo de 2023, Paulinho da Viola anuncia sua turnê "80 anos". As cidades mais próximas eram: Porto Alegre e Curitiba.

Era a vida dando voltas e me dando mais uma oportunidade de encontrar com Paulinho. Talvez a última.

Comprei ingresso para o show em Porto Alegre, dia 15 de abril de 2023, no Teatro Araújo Viana.

Agora era preciso arquitetar um plano para entrar no camarim e ter um encontro com Paulinho da Viola.

Perguntei para minha amiga Milene, de Porto, alguma dica valiosa. Ela falou que pra entrar no camarim seria mais fácil eu falar com alguém da banda do que da produção.

Começa a saga por procurar alguém da banda para me ajudar a realizar o meu sonho: apertar a mão do Paulinho e chorar feito uma criança.

Por algum motivo que eu não sei qual, eu tenho o contato do Paulão 7 Cordas, a quem pedi ajuda para me indicar o nome de alguém que fosse da banda do Paulinho.

Por algum outro motivo, que eu também não sei qual, eu tenho o contato do Marcos Esguleba, que é da banda do Paulinho, a quem eu também pedi ajuda.

Ambos muito solícitos e me responderam a mesma coisa: é bem difícil falar com o Paulinho. Após o show ele não costuma receber ninguém. Mas o Esguleba deu uma dica: tentar algo durante a passagem de som.

Chego em Porto Alegre no dia 15, dia do show, pela manhã. Mandei mensagem incomodando Esguleba para saber que horas ele iria para o Teatro para passar o som. Sem resposta, por volta das 12h comecei a apelar para outros contatos.

Consegui o telefone da Cecília, uma das filhas do Paulinho, que também participa da produção. Enviei uma mensagem e não obtive retorno.

Já eram 16h. Resolvi ir para o Teatro por conta própria. O show era às 21h.

Chegando do lado de fora do Teatro, ouço a banda tocando, passando o som.

Questionei um segurança, como se eu não soubesse: "A banda tá passando som? Tenho um amigo tocando, e só queria dar um 'oi' pra ele". Ao que o segurança me respondeu de forma muito educada, sem ironia da minha parte: "Só posso deixar entrar se alguém da produção autorizar."

Logo em seguida, apareceu outro sujeito com um cavaquinho, na esperança de que o Paulinho o assinasse. No mesmo instante, apareceu Celsinho Silva, pandeirista do Paulinho. Ele disse ao sujeito que o Paulinho ainda não tinha chegado e que ele poderia esperar ali, tentar identificar o carro do Paulinho e ver se ele parava.

Ficamos eu e esse rapaz, com quem eu não troquei 1 palavra, do lado de fora esperando.

Enquanto isso eu pensava: "Sei que vou chorar e fazer um fiasco quando encontrar o Paulinho. Vai ser muito vergonhoso se esse estranho estiver junto. Vai estragar toda a magia do encontro."

Depois de umas 3 horas, já era quase hora do show. Esse sujeito foi embora e eu fui pedir mais alguma ajuda pro segurança. A dica dele foi de sair pela porta lateral do Teatro, que seria aberta minutos antes do show terminar.

Durante o show, por sinal, impecável, ainda tentei procurar a produção, mas os seguranças não tinham muitas informações.

Quando percebi que o show estava se encaminhando pro final, me levantei e fui em direção às portas laterais. No fim do BIS, saí.

Já do lado de fora, um soldado do Corpo de Bombeiros estava fechando o portão. Era o meu sonho indo embora novamente.

Ele disse que a saída era por outro lado, mas perguntou se eu estava sozinho. Respondi a ele que sim, e ele me deixou passar.

Estava eu, de novo, no mesmo lugar onde havia estado por 3 horas antes do show, como um fã enlouquecido de uma banda jovem qualquer.

Já tinha identificado o carro que o trouxe. Seria o mesmo que o levaria de volta.

Mais uns 30 minutos esperando, o povo todo saindo do Teatro pela porta certa. Ninguém perto de mim. Era o ambiente perfeito, como eu havia imaginado.

E vem o carro.

Era eu, o segurança que abria o portão, o portão e o carro.

Enquanto o portão abria, eu fazia sinais com as mãos de "por favor", "só um minutinho", quase me ajoelhando em frente ao carro.

O motorista já tinha me visto antes do show ali mesmo. Possivelmente me reconheceria.

O portão termina de abrir e o carro vem, lentamente.

Me afasto.

O vidro da janela do banco de trás se abre.

É ele. Paulinho da Viola. Sorrindo.

O diálogo foi curto. Eu consegui formular 2 frases completas. A primeira foi: "Paulinho, eu só queria apertar tua mão."

Apertei, beijei, encostei na testa como reverência e... chorei feito uma criança.

A partir daí, eu tenho uma vaga lembrança de tudo porque a vista ficou embaçada e eu estava muito nervoso.

Ele ainda sorrindo, mas um pouco espantado com a situação, perguntou meu nome. Respondi: "Artur". Ele repetiu meu nome.

A segunda frase completa que eu consegui pronunciar foi: "Posso tirar uma foto contigo?"

Ele prontamente aceitou e eu fui pegando o celular pronto para tirar uma selfie com ele ainda dentro do carro, pensando em não incomodar mais do que eu já estava. Mas ele fez questão de sair do carro para a foto.

Sua filha, que eu não olhei direito, mas acho que era a Cecília, se prontificou a tirar a foto.

Nesses poucos segundos de interação eu não consegui formular mais nenhuma frase completa. Lembro de ter dito coisas como: "Blerg...", "Crotz..." e "Flurd...". Ou algo assim.

A foto foi tirada. Eu agradeci. Ele foi embora. E eu, ainda chorando feito uma criança, também.