domingo, 16 de outubro de 2011

Uma leve vontade...

Bateu a Ave Maria. Hora de sair do serviço. Uma leve vontade de urinar me toma o corpo. Não fico muito a vontade usando banheiros públicos, ou do serviço, que por ser um órgão público, se torna quase um banheiro público. Como a vontade também não é grande, dá pra aguentar até em casa.

O elevador demora pra chegar. Pudera. São 18h e todos estão querendo ir embora. Até o elevador chegar no 12º andar deve demorar um pouco mesmo.
Eis que chega. Agora, a demora é pra chegar ao térreo. Pudera. São 18h e todos estão querendo ir embora.
O equipamento para em todos os andares. Em cada andar, uma breve saculejada. Sinto saculejar também a minha bexiga. Mas ainda estou no controle.
Térreo. Ainda desço mais um lance de escada para chegar até a calçada. Chove. O barulho da água é um facilitador psicológico para quem quer urinar. Eu quero. Mas não posso agora.

Do serviço até o terminal de ônibus são alguns bons metros. A calçada esburacada da cidade não ajuda em nada quem está com a bexiga cheia. E essas poças d'água estão começando a me incomodar.

Pro meu azar, o meu ônibus acabou de sair. O próximo só em 30 minutos. Ainda chove. O barulho da água no teto faz parecer que a chuva está mais forte, que há mais água caindo. Já estou começando a andar meio curvado, pra não pressionar muito a bexiga. E saber que vou demorar pra chegar em casa não ajuda.
O banheiro do terminal é bem próximo do ponto do meu ônibus. Mas não consigo urinar com tanto barulho, ou com alguém perto de mim, ou sabendo que tem alguém que também está apressado, com vontade, esperando eu acabar. Mesmo assim, arrisquei.

Chego no mictório, vejo aquele latão de ponta a ponta da parede, com água escorrendo, para escoar a urina e servindo como um facilitador psicológico para quem quer urinar. Que sorte, está vazio!
Pois foi só eu encostar no canto, que apareceu um sujeito. Olhei pra trás, dei mais um passinho pro lado, para liberar mais espaço, sendo que havia todo o resto do mictório disponível. O sujeito chega, urina e quando está saindo, quando eu penso que ia ficar sozinho novamente, só eu e o mictório, aparece outra pessoa. Eu começo a ficar encabulado de não ter urinado ainda e continuo na mesma posição, com as duas mãos na região pubiana, olhando pra baixo, parado, aguardando a urina sair. Tão perto e ao mesmo tempo tão longe. A posição, a água rolando, o mictório na minha frente. Tudo propício. A vontade aumenta. A bexiga se prepara para despejar o líquido, o corpo sabe que a urina tem que sair, mas o cérebro não deixa e o corpo trava. Não dá. Não consigo. Chega mais dois. Eu fingo que termino, embora ninguém tenha ouvido um barulho sequer do canto onde eu estava, ou ter escorrido algo mais do que a água do mictório para o ralo. Tenho a impressão de que todos estão rindo de mim por saber que eu não consegui urinar na presença de mais pessoas. Lavo a mão e saio.

Volto para fila do ônibus, mais curvado que antes. A chuva não pára. Minha barriga dói.

Fico imóvel, porque qualquer movimento piora a sensação. Até o ritmo da respiração eu diminuo. Se eu respirar fundo, o pulmão vai ocupar muito espaço dentro de mim e pressionar a bexiga. Então respiro pouco.

Entro no ônibus e consigo um último lugar pra sentar, na cozinha, ao lado da janela, vendo a chuva.
Quando o motorista liga o ônibus, dá a impressão de que ele ligou uma daquelas cadeiras do cinema do Beto Carreiro, que vai pra frente, pra trás, sobe, desce... Corre uma lágrima do meu rosto. Quando o motorista acelera, há um breve alívio, já que as batidas do motor diminuem.
Mas o trajeto até a minha casa demora, já são 19h, chove, a cidade está repleta de carros e as filas aumentam brutalmente. Abro o botão da calça para amenizar a pressão na barriga.
A rua esburacada da cidade não ajuda em nada quem está com a bexiga cheia e o local que eu encontrei no ônibus piora. A parte de trás do ônibus é a que mais balança.

São 19h20 e o motorista está com pressa. Estressado por conta do trânsito, quando há uma brecha ele acelera com tudo. Numa dessa, há uma lombada. Ele a ignora. Minha bexiga não.
Acho que escapou uma gota pela uretra. Mais 2 lágrimas escorrem.

Mas onde eu estava com a cabeça de sentar?? Para amenizar o chacoalhar do ônibus, levanto, mas numa das aceleradas do ônibus, me vem a mente aquelas aulas de física da 5ª série sobre inércia, onde aprendemos que todo corpo tende a se manter parado até que alguma força a faça se mover. O sujeito da minha frente parece ter faltado essa aula, pois numa arrancada do ônibus, o sujeito esbarra em mim e, obviamente, pela Lei de Murphy, na minha barriga, exatamente no balão cheio de urina que eu carrego dentro de mim.
Acho que escapou mais duas gotas pela uretra e meus olhos ficam rasos d'água. No piscar, dois filetes de lágrima riscam meu rosto até a mandíbula. Minha barriga dói mais. Mais pela vontade de urinar do que pelo esbarrão.

Falta pouco pra eu chegar em casa e menos ainda pra eu molhar as calças.
Pensando bem, está chovendo, ninguém ia reparar. Talvez pelo cheiro. Pensando melhor ainda, é preferível não fazer isso.

Ainda chove e a essas alturas eu já estou chorando quando, enfim, chego no meu ponto, corro, na medida do possível, até minha casa, já com a chave do portão na mão, com o corpo bem mais relaxado por estar em no meu ambiente, no meu espaço, o que piora a situação, abro o portão em tempo recorde, entro em casa como se a porta nem existisse, a calça já está totalmente aberta, avisto o vaso sanitário de longe com a tampa abaixada pensando sem um empecilho, mas se nem a porta da casa foi um agente dificultoso, uma tampa não vai atrapalhar minha glória, e com a agilidade de um gato, a urina começa a sair ao mesmo tempo em que a tampa é levantada.

Choro de novo.

Permaneço ali por minutos. As pernas amolecem. O coração dispara. Um sorriso involuntário toma conta do meu rosto. Solto alguns gemidos, também involuntários.
Lentamente, lavo as mãos. Deito na cama.

Acordo feliz e com a cama completamente encharcada, já gotejando no chão.
Nunca acordei sorrindo de um pesadelo.

Um comentário:

Jorge Jr. disse...

Faz tempo que não mijo na cama