terça-feira, 29 de maio de 2007

Aparthaid

Canso, e me enjôo, de ver pessoas formando grupos denominados ‘minorias’ para se fortalecer, mostrar que existem, ou seja lá qual for o motivo. O próprio grupo está carimbando o atestado de minoria. Além de estar se excluindo. Associação de Mulheres Trabalhadoras, Associação de Deficientes físicos, Associação dos Ceguinhos do Brejarú, etc.

Tanto se fala em acabar com o preconceito, acabar com a divisão, mas mais e mais grupos são formados. Não entendo a razão.

Vivemos em um mundo de orkut, cheio de comunidades. É a vida imitando o virtual? Ou será que o virtual imitou a vida, e agora a vida quer imitar o virtual? Porque o virtual tem mais glamour! É melhor eu participar de uma comunidade virtual de leitores de livros do Papa do que criar um grupo de estudos dele. O virtual desvirtua o real.

A única separação desse tipo da qual me deram um argumento válido é a Cota para Negros na Faculdade. Motivo: temporário. Cerca de 20, 30 anos. É aberta a cota para que o negro saia formado e crie chances para que as crianças negras entrem mais, e melhor, na escola e tenham mais chance, em cerca de 20 anos, de chegar à uma faculdade, ai sim, sem precisar de cotas. O período das cotas valeria até que haja um equilíbrio racial nas faculdades. Uma espécie de alavanca.

No mais, qual é a função de um grupo de mulheres, deficientes, negros? Lutar por suas causas? Justo. Mas pra isso, será mesmo necessário criar uma associação?

Deve ser porque é o caminho mais fácil. Entre mudar o pensamento para que ninguém mais olhe um diferente como diferente – Oras! Diferentes todos somos! Ainda bem! – e formar uma associação, é muito mais fácil formar uma associação.

Me permito discordar de Tom Jobim quando disse: “Se todos fossem iguais a você, que maravilha viver.” Que horrível seria todos iguais. Não teria graça nenhuma. A não ser que sejam iguais a mim. E não chiem. Se vocês fossem iguais a mim, iriam concordar. A opinião é minha, e seria nossa.

Vou criar uma associação. AAQA (Associação dos Associados em Qualquer Associação). Será a maior Associação do mundo! E eu, sendo o presidente, posso comandar o planeta!

segunda-feira, 21 de maio de 2007

E agora, José?

Agora ajoelha e chora. Espera acabar este mundo e começar outro. O que deveria ser feito já não vai adiantar hoje. Adiantaria há cerca de 10, 15 anos atrás: Planejamento.

Tanto se fala em Planejamento Econômico, Urbano, etc, mas com o Planejamento Social ninguém se importou. Até teve gente que se importava. Se tivessem dado ouvidos para Betinho, Chacrinha, Gonzaguinha, se tivessem dado ouvidos até para o próprio Lula um tempo atrás, poderia ser de grande valia.

Resolveram fazer vista grossa, mas o grosso foi crescendo. Agora, como disse Cartola: “Chora, disfarça e chora”, mas não dá mais pra disfarçar. Deve ter gente grande sendo incomodada com isso. O povo já está incomodado há tempos. O povo nunca teve voz, nem vez. Vocês podem até lembrar do impeatchement do Collor, mas não foi o povo que tirou ele do poder. Ele mexeu no bolso do povo e também de empresários grandes.

Enquanto isso as cadeias foram enchendo. Aliás, já estavam cheias desde os tempos da ditadura, mas estavam cheias com as pessoas erradas. Hoje continuam cheias, dessa vez com as pessoas certas. De que adianta? O preso liga para o solto fazer o assalto, é preso, liga para o solto fazer o assalto, é preso..... É como querer matar um talibã que adoraria morrer. Na cadeia o pobre fudido que recebeu o telefonema e foi preso vai ganhar comida, fama, mesmo que a cadeia seja superlotada, amigos, e continua livre, ligando pra quem quiser.

Eu fico com a pureza da resposta das crianças: “me dá o relógio, o celular e a carteira!”

E o povo continua cantando: “Foi em Diamantina, onde naisceu JK, que a Princesa Leopoldina, arresolveu se casá.”

Escrito em 18/05/2006

sábado, 5 de maio de 2007

Saudades de um saudosista

Seria então a maior saudade que alguém poderia sentir? Não. Apenas uma brincadeira com as palavras.

Estou com saudade de vocês, leitores. Morando sozinho, sem computador, e sem acesso às configurações do blog pela faculdade, não posso atualizar este Cantinho. Mas não pensem que estou sem escrever. O mural da sala, na faculdade, virou o meu blog real, enquanto o virtual descansa.

Aliás, muito bom. Escrever pra algo palpável é bom. Creio que até melhor do que internet. Pelo menos no meu caso a interação está sendo maior.
Eu, como saudosista, historiador, pesquisador, prefiro ter tudo guardado em papel. Muito mais seguro.

Por falar em saudosismo, segue um texto que muito provavelmente irá também para o "Espaço do Artur", nome do espaço que eu ganhei da curadora do mural, Kenni.


Há aquela história de que a criança pobre tem mais imaginação do que a criança rica. Isso porque a criança rica quando recebe um brinquedo, já recebe com ele pronto: ou é uma boneca já pronta ou um carrinho já pronto. A pobre não. Arranja um pedaço de madeira qualquer. Pode ser tanto um boneco, um carrinho, uma nave espacial, vai depender da imaginação da criança.

Baseado nisso é que eu fico pensando sobre aquele toca discos mágico: o MP3 player.

Eu não tenho um. Tenho um gravador que uso para fins profissionais e que também pode servir como o tal do walkman. Mas não preciso de um reprodutor de som comigo. Eu imagino uma música. Não escuto nada pronto.

Sorte a minha, pois sou compositor e músico-teimoso nas horas vagas. Então imagino qualquer música, melodia e crio meus sambas. E mais: não gasto com pilhas, não gasto meus ouvidos, só gasto imaginação. Mas creio que isso seja ingastável.

Coitado daquele que vive com um fio pendurado no ouvido. Preso à um mundo já pronto e que não cria, só reproduz.

Além do que é uma baita falta de respeito com as pessoas ao lado. Ponto de ônibus, dentro do ônibus, fila, etc. Logo aqui em Florianópolis, onde o povo é tão comunicativo. Ninguém conversa com ninguém. Porque além de estar sem imaginação, está ouvindo algo já pronto, com idéias prontas e vai ter os mesmos pensamentos prontos. Pronto. Ponto.

E o povo de Florianópolis ultimamente canta: "Se gritar 'pega ladrão', não fica um meu irmão, se gritar 'pega ladrão', não fica um" (Ary do Cavaco / Bebeto di São João)