Os sambas na ilha continuavam, enquanto que as primeiras manifestações mais
contundentes de samba surgiam do outro lado da ponte, na região continental da cidade, que já foi a
região onde se originou a maioria das escolas de samba: Império do Samba, Filhos do Continente,
Acadêmicos do Samba, Coloninha, Quilombo, Quilombo dos Palmares e o bloco Lufa-lufa, que virou escola de samba mais tarde.
Apesar de diversas agremiações carnavalescas, que surgiriam com maior ênfase nas décadas
de 1970 e 80, nos anos 50 e 60, no continente, havia pouca movimentação de samba fora do
carnaval. Somente na Coloninha: basicamente no clube Monte Castelo, aos domingos, meio dia; e
no bar chamado de Casinha Azul, que mais tarde seria o local da sede da escola de samba
Coloninha. O pessoal se juntava para conversar, beber, jogar um dominó ou um carteado.
Sociabilizar. Costumeiramente, um samba acontecia.
Segundo o pesquisador Velho Bruxo, dizem que o bairro Coloninha tem esse nome pelo fato
das casas da região serem todas iguais. Dizem os mais velhos que havia um senhor que construía
uma casa por dia. Por isso, algumas casas eram meio tortas.
Sabaráh, que tempos depois fundaria o grupo Senti Firmeza, referência na década de 1980,
conta como surgiu a escola de samba da Coloninha, ainda como escola mirim. Nas redondezas, num
determinado dia, um grupo de crianças andava pela rua, na época de carnaval, batucando alguns
sambas e passaram pela casa de Seu Porrete, onde rolava uma partida de dominó. Tita (membro da
Velha Guarda da Coloninha), Cizenando e outros senhores abordaram as crianças, e lhes
perguntaram se elas gostavam de samba. Com a resposta positiva, os mais velhos resolveram criar
uma escola de samba mirim. Nascia, no início de 1962, a escola de samba mirim Unidos da
Coloninha. Entre as crianças, estava Sabaráh.
No bairro da Coloninha, outro
personagem do samba relembrado é
Mário do Banjo. Um “preto do cabelo
bom”, como se costumava chamar os
negros que tinham cabelo liso. Todo
sábado ele sentava na varanda de casa,
ligava o banjo, estilo americano, em
uma caixa amplificadora e mandava
chamar Sabaráh, que aprendeu a tocar
pandeiro com seu pai, para
acompanhá-lo durante a tarde tocando
sambas.
Além da Casinha Azul e do clube
Monte Castelo, no início da década de
60, no bairro, boêmios, sambistas,
batuqueiros iam ao Bar do Bugrinho, chamada de Venda do Bugrinho.
Venda daquelas de vender saco de
feijão, arroz por quilo, com caderneta
de “fiado”. Aos sábados, Seu Nelson
do Cavaco, do Morro da Caixa, e
outros frequentavam esse lugar pra um samba.
A Coloninha também tinha seu batalhão de botequeiros. Tita; Seu Boca; Cizenando;
Maneca; Carlito, tocador de trombone; Nego Chico, também conhecido como “Três Beiço”, tocava
pistom; seu irmão, Pelé, chamado de Miganga, que tocava pandeiro; Nego César, no cavaquinho.
Todos facilmente encontrados nos botiquins mais vagabundos e batucadas da Coloninha.
Muitas dessas pessoas se encontravam também atrás da Venda do Seu Oswaldo ou na casa
do Três Beiço, como por exemplo: Seu Bastião, pai do Nego César, e Cizenando. A casa ficava em
uma vila da Servidão Buchelle, também na Coloninha.
Outros locais eram frequentados para se ouvir um samba, porém, com menor intensidade:
Sociedade Tamandaré, um salão grande, cheio de mesa de sinuca onde menor de idade não podia
entrar, por conta dos jogos; Clube do Pau do Meio, cujo nome singular é oriundo do layout. O salão
foi construído ao redor de um tronco de árvore, que servia para segurar o forro.
Os pais e tios dos integrantes do grupo Novos Bambas, formado em 2000, hoje com a faixa etária na média de 25 anos, lembram que na década de 1960, aos domingos, eles costumavam
organizar festas em sua casa, no Morro da Caixa do continente. Eram os avós do grupo Novos
Bambas. Um dos cantores da Unidos da Coloninha hoje, Sabaráh, primo deles, costumava ir, levado
pelo seu pai e tio, Nilton, que tocava pandeiro. Nessa casa se reuniam Chico; Velho Charuto,
cavaquinhista e avô do cantor Vlademir Rosa, que em 1997 fundaria o grupo Coisa da Antiga;
Varela, seu irmão; Guaracy, no pandeiro e cuíca; Nelson do Cavaco; Placidino, também conhecido
como Chatim, no cavaco; e Evaristo, o Nito, no violão, avô dos integrantes do grupo Novos
Bambas; Amaro, seu irmão e pai do Seu Campos, que tempos depois fundaria o grupo Caximônia;
Damião; Genésio; e Didino, pai do Cachaça, uma das figuras centrais do bar Silvelândia, que
tornou-se referência de samba em fins da década de 1990. Esses 3 últimos tinham aulas de violão
com Nito. As aulas não eram cobradas e eram ministradas de um jeito informal.
Todas essas pessoas se reuniam frequentemente no morro, na casa do Nito. Tudo era motivo
para festa: Terno de Reis, Cacumbi, Natal, aniversários, e tudo terminava em “corinho”, como se
chamava o samba. Nessas festas se usavam pandeiro, surdo, caixa de fósforo, panela, colheres,
pente. Qualquer coisa parada não demorava pra se tornar um instrumento. Quando alguém
atravessava o samba, tocando fora do ritmo, alguém berrada: “Te bandera!” e o sujeito parava.
Os pais e tios dos Novos Bambas contam também que Seu Charuto, Nelson, Chatim, Nito,
Varela e Guaracy chegaram a formar um grupo e tocavam pela cidade. O grupo não tinha nome e
não durou muito tempo.
No Morro da Caixa do continente o pessoal também costumava fazer samba no bar do
Bacatela, na Venda do Cachimbo e no Bar Coringa. Este último ficava na Rua Santos Saraiva e foi
por anos o principal ponto de referência da região. O Bar fechou em meados de 2005.
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