Além do samba encontramos no Continente outras expressões musicais e ritmos. Assim,
conta o pesquisador Velho Bruxo que foi no Continente que surgiu a primeira gafieira da cidade.
Gafieira é onde se tocam sambas cadenciados, com predominância de sopros (flautas, saxofones,
pistons), feitos para se dançar em casal. Era a gafieira do Laudelino e do Maneca, na avenida Ivo
Silveira, em frente à Igreja São Judas Tadeu. Como se não bastasse o fato de ser inovadora, o Velho
Bruxo ainda conta que, a gafieira ficou famosa por causa de um acidente automobilístico, quando
um carro Karmanguia perdeu o controle na avenida Ivo Silveira e entrou salão adentro, em meados
de 1972.
Sardá e sua “trupe” eram os músicos que embalavam as noites dessa gafieira. Mulheres ditas
“de família” não podiam frequentar. A música de abertura e de encerramento, às 4 horas da manhã,
era a mesma: Aquarela do Brasil. Conta Velho Bruxo que outra peculiaridade do lugar era a entrada.
Para entrar na gafieira era necessário descer uma escadaria grande e complicada. Não era incomum
que os frequentadores descessem a primeira metade da escada degrau por degrau e a outra metade
rolando. Nesses casos, se o indivíduo fosse de boa índole, o porteiro ajudava deixando, pelo menos,
a porta aberta para que a pessoa não se esborrachasse na porta. Se não, o desavisado encontrava a
porta cerrada e o acidente se tornava pior.
É possível perceber que já não estamos mais falando de escolas de samba. Isso porque, com
o tempo, o samba passa a se emancipar delas. Duduco, um famoso personagem da cidade, que foi
carnavalesco e confeccionador de fantasias, em entrevista concedida em 2011, resumiu bem: “No
Rio de Janeiro primeiro começou o samba, pra depois surgirem as escolas de samba. Em
Florianópolis primeiro surgem as escolas pra depois surgir o samba”.
E é mais ou menos por aí. O samba surge praticamente com a criação das escolas de samba e
vai de desvencilhando com o tempo, adquirindo autonomia. Além do desfile das escolas, das festas
de família e bares, que intensificam em quantidade, o samba passa a ser feito nos salões.
Desde a década de 1940 que já existia samba na cidade, porém, a classe social mais baixa e a
etnia negra, a maioria dos que faziam samba, não tinham acesso a clubes e boates, como tiveram na
década de 1960, 70, quando começaram a criar esses espaços justamente para abrigar os que não podiam entrar em clubes tradicionais da cidade.
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