sábado, 10 de setembro de 2011

Ninguém quer essa vida, Zambi!

Esses dias, perto do meio dia, eu estava numa tendinha num morro - morro como qualquer outro, com escola, malandros e trabalhadores, muitos trabalhadores - e na tv passava uma reportagem sobre um caso policial envolvendo adolescentes de uma outra favela - favela como qualquer outra, com escola, malandros e trabalhadores, muitos trabalhadores.

Até o repórter informar de onde eram os adolescentes, não havia nenhuma manifestação estranha, além das "minha nossa" e "que barbaridade", já esperadas. Quando ouve-se a procedência dos autores, ouço um homem dizer: "Ahn... tinha que ser, mesmo!".

Como assim, "tinha que ser"? O fato dos autores do crime serem de uma favela não significa nada.

O que me espantou foi um, em princípio, morador de um morro, também favela, falar mal de outra favela, no caso, sem ser no morro.

Na teoria, o sujeito rouba por necessidade. É um problema social.
Na teoria, o sujeito que mora em uma favela carece de alguns itens de sobrevivência como saneamento básico, alimentação, água, energia elétrica...
Na teoria. Porque na prática não vive nenhum miserável que passe fome nessas localidades em especial.

Claro que o crime não foi impulsionado por uma questão de sobrevivência. Mais provável que tenha sido por uma questão de sobrevivência social. Eram jovens que praticaram os crimes provavelmente para se manter no ciclo de convivência deles.

Mas o comentário do homem sobre a reportagem foi de uma forma como se o morro onde ele estava fosse melhor - ou pior - do que a favela da reportagem. Lá tem moradores iguais aos do morro. Era o sujo falando do mal lavado.




Assim não, Zambi!
(Martinho da Vila)

Quando eu morrer
Vou bater lá na porta do céu
E vou falar pra São Pedro
Que ninguém quer essa vida cruel
Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi
Eu não quero as crianças roubando
A veinha esmolando uma xepa na feira
Eu não quero esse medo estampado
Na cara duns nêgo sem eira nem beira
Asbre as cadeias
Pros inocentes
Dá liberdade pros homens de opinião
Quando um nêgo tá morto de fome
Um outro não tem o que comer
Quando um nêgo tá num pau-de-arara
Tem nego penando num outro sofrer
Deus é pai, Deus é filho, Espírito Santo é Zambi
Eu não quero essa vida não Zambi
Clementina é filha de Zambi
Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi

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