quarta-feira, 18 de novembro de 2009

São Paulo em 3 tempos

A ida, A viagem e O Samba.

A ida
Foram algumas tentativas de sair de Florianópolis e curtir um samba lá fora.

A primeira tentativa foi para o Rio de Janeiro, na Rua do Ouvidor. O samba acontece quinzenalmente aos sábados. Avisei pro povo que eu iria, já tava tudo combinado, pousada, antes de voltar ia passar em Curitiba, etc. Curitiba não deu certo, então a volta já ia ser direto pra casa. Mas o pior foi que, pela primeira vez no ano, choveu no sábado que teve o samba e, consequentemente, pela primeira vez no ano, não teve o Samba da Ouvidor.

A segunda tentativa foi para São Paulo. Avisei pro povo que eu iria, tudo certo pra ir, passagem comprada, e no começo da semana fiquei gripado. "Dane-se!", pensei, "Vou assim mesmo". Na quinta de noite, vendo mapa do metrô com a mãe, recebo um e-mail dizendo que o samba tinha sido cancelado por motivos de força maior. Fui até a Rodoviária e troquei a passagem. Deixei em aberto.

A terceira e última tentativa foi de novo para São Paulo. Avisei pra minha chefe, pra minha mãe e pra dois amigos. Coincidências ou não, dessa vez eu consegui ir. Ainda assim, teve apagão na semana, peguei um acidente no caminho, que me deixou numa fila por duas horas, e alguns integrantes do grupo não foram. Mas foi demais!

A viagem
A viagem é sempre tranquila. Medo na BR pra que?

Logo no início da viagem, o meu chacra da região lombar sente um friozinho. Algo ruim que está por vir? Não. É o ar condicionado que está forte. Regulado o aparelho, a viagem segue.

Um certo momento, já eram umas 3 da manhã, eu acordo e vejo que o ônibus está andando a cerca de 60Km/h. Meu ouvido está com aquela sensação de quando estamos subindo o Morro da Lagoa. Olho pela janela e vejo tudo embaçado, parece neblina. Percebo alguns focos de luz, mas não consigo identificar bulhufas. Só ouço carros passando pelo ônibus e o ônibus passando por caminhões, mas não percebo nenhum movimento contrário. Agora é descida. O ônibus mantém a velocidade. E eu continuo sem enxergar nada.

Lembro de não ter visto troca de motorista, como de vez em quando se faz em viagens longas. Como saímos às 21h30, faço um breve cálculo, sem chegar a terminar, e me pergunto se o motorista não está com sono. Preocupação pouca é bobagem.

Aí me vem uma luz: esfrego a mão no vidro, por consequência molho a mão, e tudo aquilo que me era embaçado, transforma-se, magicamente, em perfeita nitidez. Volto a dormir.

A estrada é cruel. Foto: Artur de Bem

Já em São Paulo, ou redondezas, 8h, ônibus parado. Os passageiros fazem algumas ligações e descobrem que aconteceu um acidente em uma obra à frente. Às 10h, retomamos nosso rumo.
Adentrando a cidade, sou recepcionado por um mundo laranja. Seja pelo chão e paredões barrentos, seja pelas casas de tijolo sem reboco. E é um negócio muito grande. Bom, toda São Paulo é muito grande. O que nós vemos aqui em Floripa, lá é três vezes mais.
Túneis, rodovias, passarelas, rio, poluição, carros, Rodoviária. Tudo no caminho, tudo muito grande.
Da Rodoviária para Tatuapé, local do samba, foi mais fácil do que chegar no Morro das Pedras, sul da ilha. Metrô rápido, placas de indicações, mapas, pessoas para informações. Claro que se eu morasse lá, possivelmente ia encontrar algo para reclamar, mas pra mim foi bom.

Chegando no bar O Patriota, bar do Alemão, pergunto: "Aqui é o bar do Alemão?". Ao que o Alemão responde: "Sou eu!". Era meio dia, o samba ia começar mais tarde, não tinha onde ficar, então fiquei no bar conversando com ele. O Alemão é demais! Melhor dono de bar! Me contou várias histórias! Super gente boa! Fiquei devendo de tirar uma foto com ele.

O Samba
O Samba começou a chegar por volta das 13h. Se apresentou como Eri, caixa de fósforo no grupo. Depois o Samba chegou com o nome de Jorge, um dos tamborins. Aí o Samba veio com o nome de Edinho, um dos cavacos. A partir daí, o Samba foi chegando por (quase) completo: Alfredo, cuíca, Pereira, um dos tamborins, Neco, reco-reco, Careca, um dos tamborins, Cardoso, 7 cordas, Luizinho, pandeiro, Wilson Miséria, prato e faca, Renato Martins, agogô, Lelo, 6 cordas e Marcelo Cabeça, garrafa, fazendo uma participação.
Cristina Buarque, Roberto Didio, Bocão e Tuco não puderam comparecer.

Eu não tive condições, nem tempo, de me sentir surpreendido por me encontrar com o Samba, porque o Samba me deixou super a vontade.
"Pô! Tu veio de Floripa só pra ver o Terreiro Grande?" era o que eu mais ouvia. Seguido de: "E não bebe?? Mais maluco do que eu pensei!"

Marcado para começas às 16h, só às 18h30, por intempéries, é que o violão começou os primeiros acordes. Mas juro que não fiquei chateado. A tarde estava muito boa. Todo o Terreiro Grande é legal. Conversas mil. E eu estava, como disse André Carvalho, parecendo criança com brinquedo novo.
Eu estava meio aéreo na verdade. Tudo aquilo que eu via pela internet, admirava, idolatrava salve salve, estava sentado comigo numa mesa de bar, conversando, falando besteira, contando piada, etc. Foi demais pra mim! Estava sem reação.

Vista de fora do bar. O Samba ainda não tinha começado. Foto: Artur de Bem

Principal dúvida: fazer a roda aqui dentro ou aqui fora? Foto: Artur de Bem

Tinha uma Coca-cola na mesa. Era minha. Foto: Artur de Bem

Fala, Jorgera!!! Foto: Artur de Bem

Ai, ai (suspiro). Foto: Artur de Bem

Samba rolando, era só alegria.
Tentei de várias maneiras descrever o samba, juro que tentei, mas não consegui. Não dá.
Não é só pelo repertório, pelos instrumentos, pela forma de tocar, por todos cantando, pela dinâmica de grupo. É todo um clima que, somado a tudo isso, fez do Bar O Patriota (o bar do Alemão), pelo Terreiro Grande, as melhores 2 horas e meia de samba ainda não digeridas.
Eu ficava até sem jeito quando eles puxavam algum samba que eu não conhecia. Os caras são muito bons!!!

Só fiquei chateado porque tive que ir embora cedo pois já estava com passagem comprada. Até me passou pela cabeça de endoidar e só voltar domingo, mas achei melhor endoidar em uma outra oportunidade.
Tentei sair de forma discreta, mas o Jorge não deixou.

Outra coisa que me deixou chateado foi a última frase dita quando eu já estava na porta: "Vamos fazer um partido alto?"
Fingi que não ouvi, porque se eu ouvisse, ia querer ficar mais um pouco e tenho certeza que esse "mais um pouco" ia ser até hoje.

Gente! Eu conheci o Terreiro Grande!
Nem eu tenho a noção completa do que vivi.


Só sei que eu canto: "Juro que fiquei boquiaberto. Nunca me senti tão perto da Portela de tempos atrás" (Monarco)

2 comentários:

Dôga disse...

Não admitiria ter inveja de forma alguma.. :)
fico feliz por assistires a mais interessante formação de samba dos últimos anos, o terreiro grande mata a pau!
eu que sempre sonhei com algo parecido na forma de interpretar os sambas, mas, aqui na nossa cidade falta gente pra isso.
como pensamos (eu e tu), o samba de terreiro se mostra a vertente autêntica e vibrante do samba, traduz o morro, o cotidiano e nunca deixa de dar aquela pisada no sistema :)
na proxima viagem quero estar junto e ter esse prazer imenso qual achava que não seria oportuno.
principalmente pq podemos sentir "a portela de tempos atras", o rio antigo, o samba malandreado de outrora..
Tbm sinto aquela saudade do que não vivi!
que bom que temos nesse novo milênio o terreiro grande, único e sem frescuras. É o samba sem poluição!!!
Asé O!

Dôga disse...

Comentário tolo, mas como grende fã não poderia deixar de falar qualquer coisa.
O Terreiro Grande merece muito mais do que palavras minhas ou de qualquer pessoa.
Espero poder prestigiar e ouvi-los durante muitos anos.
Não quero botar peso ou responsabilidade alguma neles, mas na minha opinião, o samba depende muito do terreiro grande, da cristina buarque e de alguns outros bambas espalhados pelo país.
Façamos o que for possível pra que essa forma tradicional de se fazer samba continue viva e seja reproduzida da mesma forma.