Meia noite. Todas as pessoas
normais se preparam pra dormir. Ou já estão dormindo. Ele? Ele se prepara pra
ir trabalhar. Daqui a pouco ele deve sair. A qualquer momento a partir de
agora.
Uma hora da manhã. Lá vai ele. Um
pouco atrasado. Acho que o patrão não vai gostar. Talvez ele seja demitido
hoje. Tomara. Talvez ele tenha dormido demais. Que ironia.
Mentira. Nem sei o que ele faz da
vida. A quem estou querendo enganar? A mim mesmo. Inventando histórias pra me
satisfazer. Enquanto ele vai trabalhar agora. A noite toda. Sofrendo. Enquanto
eu durmo. Tranquilo.
Seis horas da manhã. Acho que já
acabou o expediente dele. Deve ter sido muito sofrido hoje. Ele ta até
cambaleando. Bem feito. Quem manda querer dormir até o meio dia. Não estudou.
Aí fica com esses sub empregos. De madrugada. Sofrendo.
Mentira. Nem sei se ele estudou.
Mas não deve ter estudado. Se encaixa melhor na minha análise. Vagabundo. Tudo
que ele tem é uma mochila velha. Sempre carrega a mochila.
Duas horas da tarde. Sem
vergonha. Ele não tem vergonha? Levantar essa hora? Vagabundo. Eu já levantei, tomei
banho, fiz almoço, lavei roupa. Mereço um cochilo.
Ave Maria. Nenhum movimento na
casa. Da minha janela eu consigo ver. Deve ta dormindo. Vagabundo. Sem
vergonha. É só o que ele sabe fazer. Dormir. Depois acorda atrasado pra trabalhar.
Eu não tenho culpa se ele for demitido. Nem pena. Tomara que seja.
Aliás. Que raio de emprego é
esse? Trabalha só de noite e madrugada. As vezes entra às 11 da noite. As vezes
a 1 da manhã. As vezes 10 da noite. As vezes volta às 5. As vezes volta às 6. 7.
Já vi ele sair de casa 6 horas da tarde e chegar em casa meio dia. Já vi até
ele não voltar. Vagabundo!
Nem ligo. Não é ele que paga
minhas contas.
Vagabundo!
Ó! Hoje ele ta saindo mais cedo.
Onze horas. Lá vai ele.
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