quarta-feira, 23 de março de 2016

Relatos intensos de um domingo monótono

Acordo. Ainda deitado, com os olhos entre abertos, vou tendo noção de onde estou. É meu quarto. A televisão está desligada. Talvez eu tenha lembrado de programá-la para desligar antes de dormir, ou ela desligou sozinha, quando percebeu que eu não dava mais atenção à ela. O ventilador, bravo companheiro, continuava seu trabalho constante de me fornecer um frescor no quarto fechado, e um ruído ininterrupto do motor que acompanha o frescor. A lâmpada está acesa. Sempre está. E o lençol cobre minhas pernas.

Vou abrindo mais os olhos e começo a me mexer. Primeiro uma espreguiçada para a esquerda. Depois uma pra direita, pra igualar os lados do corpo. Permaneço imóvel, esperando alguma reação dos meus músculos, que parecem ainda dormir. A reação não vem. Então eu faço um esforço de mexer meu braço esquerdo em busca do celular, no chão, ao lado da cama. Só então pude ter conhecimento do horário. São quatro horas da tarde.

A essa altura, o sol já estava cansado de tanto tentar penetrar as frestas da minha janela na tentativa de me acordar. Foram cerca de 12 horas ininterruptas de iluminação constante. Em vão. Sequer tomei conhecimento de sua existência enquanto conversava com Morfeu. Frustrado, percebo que ele começa sua trajetória de partida. Se fosse o caso de acordar com iluminação, não teria deixado a lâmpada acesa. Não posso esquecer de agradecer o ventilador, que me ajudou muito nesse sentido, amenizando o calor, que entrava junto com a iluminação externa.

No celular vejo que há mais de 999 mensagens no WhatsApp. Confiro se há alguma mensagem privada que seja importante. Nada demais. Respondo algumas com o cérebro ainda em estágio vegetativo.

Com o braço direito busco meu óculos e o controle remoto da TV. É domingo, são quatro horas da tarde, portanto deve estar começando algum jogo de futebol. Batata! Não me recordo quais times jogavam. Mas lembro que aos 20 e tantos minutos de jogo, começo a sentir sono de novo. Aos 30 eu não resisto e durmo.

O volume da TV parece aumentar involuntariamente e eu desperto. Troco de canal, abaixo o volume e volto a dormir. A cena se repete algumas vezes, até que eu desperto de vez. Então eu faço um esforço de mexer meu braço esquerdo em busca do celular, no chão, ao lado da cama. São oito horas da noite e está passando um filme qualquer na TV, que dessa vez permanece ligada. Assim como o velho companheiro incansável ventilador. E a lâmpada, que não faz tanto esforço. Somente brilha.

Meus músculos ainda não respondem a contento, mas a pressão da minha bexiga é a força maior que me motiva a levantar. Pela primeira vez no dia eu levanto. Faço minhas necessidades, uma leve higiene pessoal e volto pra cama. Me sento, de cabeça baixa pra não forçar os músculos do pescoço, e espero. Não sei o que, exatamente. Mas espero. Eis que surge um sinal: minha barriga ronca. Pudera. Devo estar há, no mínimo, 20 horas sem comer. Levanto, meio zonzo, e me dirijo à cozinha. Apalpando as paredes pelo caminho. Preparo o forno, coloco uma pizza para assar, me sento à mesa e espero alguns minutos. Como a pizza, e volto pro quarto.

Já são cerca de 11 horas da noite. Amanhã é segunda-feira e eu tenho compromissos. É hora de ir pra cama e dormir.