quarta-feira, 7 de setembro de 2016

100 anos de samba! Primeiro samba gravado!

Sempre falei que essa história de primeiro samba gravado em 1917 só serve para fins didáticos. De uma gente que quer ter uma data para início das coisas.

Uma breve pesquisa na internet já faz cair por terra os 100 anos de samba, ou que "Pelo telephone" tenha sido o primeiro samba gravado.

Antes dele, não necessariamente em ordem cronológica, temos:

Em casa de baiana (Alfredo Carlos Brício) - 1913
Não encontrei a música.

Joaquina (Pedro Bifano) - 1913


A viola está magoada (Catullo da Paixão Cearense) - 1913 ou 1914
Gravada pelo mesmo Bahiano, que gravou "Pelo telephone".


Catimbó (Antônio R. de Jesus) - Não sei a data. Se não foi antes do "Pelo telephone", foi contemporâneo. Também não encontrei a música.

Há, ainda os compositores Lourival de Carvalho e Louro, que tiveram sambas gravados antes do Donga. Não encontrei as músicas.

E deve ter muitos outros sambas. Qual foi o primeiro? Não sei. Mas como o intuito dessa postagem não é fazer uma dissertação de mestrado, mas mostrar exemplos de gravações de samba antes do "Pelo telephone", creio que tá bom.

E porque cargas d'água então se fala do "Pelo telephone"? Porque fez sucesso.

E se disserem que isso tudo não é samba, mas maxixe ou outro gênero musical, o primeiro samba, no formato como conhecemos hoje, só seria gravado em 1928, com os compositores do Estácio. De qualquer forma, não seria em 2017 o centenário do samba. Ou 2016, ano de registro do "Pelo telephone" na Biblioteca Nacional.

Me faz carinhos (Ismael Silva) - 1928
Registrado em nome de Francisco Alves, mas é do Ismael.


Encerro por aqui!

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Causa mortis: amor. Ou desgosto. Dá quase no mesmo.

No dia 17 de junho, na semana do dia dos namorados, ela foi encontrada morta, pendurada por um fio de teia de aranha, logo abaixo de um suporte de lâmpada. Suicidou-se em virtude de uma desilusão amorosa.

Segundo testemunhas, que não querem se identificar por medo, a Traça mantinha relações com o Cupim já há alguns dias. Eles dizem que ela era apaixonada pelo corpo esbelto dele.

Infelizmente, o motivo que atraía a Traça também a traía. O corpo esbelto do Cupim também chamava a atenção de outras espécimes.


Cupim era um ser realmente admirável. Com suas asas imponentes e seus dentes extremamente fortes, tinha fácil acesso a todos os ambientes. Era temido por uns, respeitado por outros, amado por todas. Por onde passava provocava os suspiros delas. Até de algumas aranhas.

Cupim gostava de frequentar os ambientes aéreos. Conversava muito com os mosquitos. Até participava das jogatinas deles. O mosquito Aedes, o patrão da área, lhe tinha muito respeito e fazia vista grossa para algumas de suas investidas. Dizem até que Cupim teria arrastado uma asa pra uma das irmãs de Aedes. Um dia Cupim conheceu Traça, e a deixou subindo pelas paredes.

Traça era bonita e jovem, ainda iria desenvolver muito, e tinha um futuro brilhante pela frente. Não fosse esse intempérie no caminho. Filha de uma família nobre, foi blindada pelos pais sobre os perigos da vida. Talvez por medo de que algo ruim pudesse acontecer. Ironicamente, talvez justamente essa blindagem a tenha matado.

Sem conhecer os amargos da vida, seu primeiro amor foi justamente o Cupim, um ser livre, que andava por todos os ambientes. Não havia condições da Traça acompanhar o ritmo acelerado do Cupim. E nem do Cupim esperar pela Traça. Sendo assim, seus encontros eram casuais. A Traça subindo pelas paredes e o Cupim voando.

Mesmo com um amor tão incomum, a Traça acreditava que podia dar certo. Até que descobriu a verdade sobre seu affair, da pior forma possível, quando o flagrou com uma formiga. E o safado nem fez questão de desmentir. Quanto maior a árvore, maior a queda. E o Cupim era o maior para a Traça.

Ela traçou um plano. Iria mostrar a todos o que um amor não correspondido pode fazer. Depois disso, ela tinha certeza que ninguém mais iria querer ficar com o Cupim. Sabendo de suas constantes visitas nas partes mais altas, falou com uma aranha, que conhecia bem o Cupim, e combinou que ela deixaria uma teia “esquecida” no suporte da lâmpada.

Ninguém acredita que a Traça tenha conseguido alcançar a lâmpada sozinha. É muito longe e de difícil acesso para quem não tem asas. Mas a força de um desamor está fora das nossas imaginações. Se o amor tem poder, o desamor, o desgosto, a vergonha, a raiva, tem muito mais.

No dia e horário de maior movimento, quando estavam todos (mosquitos, cupins, aranhas, mariposas, até uma abelha apareceu), jogando, conversando, se divertindo, aparece a Traça. Foi um silêncio sepulcral. Primeiro o espanto pelo aparecimento de uma traça tão jovem. Isso nunca tinha acontecido antes. Segundo porque era a Traça que o Cupim já tinha traçado. E somente ele.

Sem rodeios, ela atravessa o suporte todo. Já com os olhos rasos d’água. Cansada da viagem, abatida da traição e desgostosa da vida. Passa por todos como se não existisse ninguém. Se amarra no fio da teia e se joga. Foi possível ouvir o grunhido do fio se esticando. E nada mais.

O local ficou completamente abandonado até que o corpo da Traça foi retirado. Passado um tempo, o ambiente voltou a ser frequentado, aos poucos. A vida continuou. O Cupim nunca mais foi visto. Uns dizem que ele perdeu suas asas e se enfiou num buraco qualquer. Outros dizem que ele voou pra outro local. Dizem até que ele morreu. São várias as versões. Nenhuma certeza.

Hoje, ninguém mais lembra dele. Nem dela.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Quem se importa, o rabo entorta!



Meia noite. Todas as pessoas normais se preparam pra dormir. Ou já estão dormindo. Ele? Ele se prepara pra ir trabalhar. Daqui a pouco ele deve sair. A qualquer momento a partir de agora.

Uma hora da manhã. Lá vai ele. Um pouco atrasado. Acho que o patrão não vai gostar. Talvez ele seja demitido hoje. Tomara. Talvez ele tenha dormido demais. Que ironia.

Mentira. Nem sei o que ele faz da vida. A quem estou querendo enganar? A mim mesmo. Inventando histórias pra me satisfazer. Enquanto ele vai trabalhar agora. A noite toda. Sofrendo. Enquanto eu durmo. Tranquilo.

Seis horas da manhã. Acho que já acabou o expediente dele. Deve ter sido muito sofrido hoje. Ele ta até cambaleando. Bem feito. Quem manda querer dormir até o meio dia. Não estudou. Aí fica com esses sub empregos. De madrugada. Sofrendo.

Mentira. Nem sei se ele estudou. Mas não deve ter estudado. Se encaixa melhor na minha análise. Vagabundo. Tudo que ele tem é uma mochila velha. Sempre carrega a mochila.

Duas horas da tarde. Sem vergonha. Ele não tem vergonha? Levantar essa hora? Vagabundo. Eu já levantei, tomei banho, fiz almoço, lavei roupa. Mereço um cochilo.

Ave Maria. Nenhum movimento na casa. Da minha janela eu consigo ver. Deve ta dormindo. Vagabundo. Sem vergonha. É só o que ele sabe fazer. Dormir. Depois acorda atrasado pra trabalhar. Eu não tenho culpa se ele for demitido. Nem pena. Tomara que seja.

Aliás. Que raio de emprego é esse? Trabalha só de noite e madrugada. As vezes entra às 11 da noite. As vezes a 1 da manhã. As vezes 10 da noite. As vezes volta às 5. As vezes volta às 6. 7. Já vi ele sair de casa 6 horas da tarde e chegar em casa meio dia. Já vi até ele não voltar. Vagabundo!

Nem ligo. Não é ele que paga minhas contas.

Vagabundo!

Ó! Hoje ele ta saindo mais cedo. Onze horas. Lá vai ele.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Brinca Quem Pode

Não se tem muita informação a respeito desse bloco, ou escola de samba, de Florianópolis.

Segundo a pesquisadora Cristiana Tramonte, o bloco Brinca Quem Pode é de meados de 1938, e era formado só por negros.

Há uma história envolvendo o governador da época Nereu Ramos, que assumiu o governo do estado de 1935 a 1945. Os membros do bloco foram pedir uma ajuda financeira ao governador. Ato comum desde aquela época. Não sei bem como Nereu Ramos fez a piada, mas ele fez um trocadilho com o nome do bloco, dizendo que se o nome do bloco é "Brinca Quem Pode", quem não pode, não brinca. E não deu o dinheiro pra eles.

O trecho abaixo é do Seu Augusto, fundador da Escola de Samba Associação Desportiva Alvim Barbosa, fundada em 1956, cantando um trecho de um samba do bloco.


quarta-feira, 23 de março de 2016

Relatos intensos de um domingo monótono

Acordo. Ainda deitado, com os olhos entre abertos, vou tendo noção de onde estou. É meu quarto. A televisão está desligada. Talvez eu tenha lembrado de programá-la para desligar antes de dormir, ou ela desligou sozinha, quando percebeu que eu não dava mais atenção à ela. O ventilador, bravo companheiro, continuava seu trabalho constante de me fornecer um frescor no quarto fechado, e um ruído ininterrupto do motor que acompanha o frescor. A lâmpada está acesa. Sempre está. E o lençol cobre minhas pernas.

Vou abrindo mais os olhos e começo a me mexer. Primeiro uma espreguiçada para a esquerda. Depois uma pra direita, pra igualar os lados do corpo. Permaneço imóvel, esperando alguma reação dos meus músculos, que parecem ainda dormir. A reação não vem. Então eu faço um esforço de mexer meu braço esquerdo em busca do celular, no chão, ao lado da cama. Só então pude ter conhecimento do horário. São quatro horas da tarde.

A essa altura, o sol já estava cansado de tanto tentar penetrar as frestas da minha janela na tentativa de me acordar. Foram cerca de 12 horas ininterruptas de iluminação constante. Em vão. Sequer tomei conhecimento de sua existência enquanto conversava com Morfeu. Frustrado, percebo que ele começa sua trajetória de partida. Se fosse o caso de acordar com iluminação, não teria deixado a lâmpada acesa. Não posso esquecer de agradecer o ventilador, que me ajudou muito nesse sentido, amenizando o calor, que entrava junto com a iluminação externa.

No celular vejo que há mais de 999 mensagens no WhatsApp. Confiro se há alguma mensagem privada que seja importante. Nada demais. Respondo algumas com o cérebro ainda em estágio vegetativo.

Com o braço direito busco meu óculos e o controle remoto da TV. É domingo, são quatro horas da tarde, portanto deve estar começando algum jogo de futebol. Batata! Não me recordo quais times jogavam. Mas lembro que aos 20 e tantos minutos de jogo, começo a sentir sono de novo. Aos 30 eu não resisto e durmo.

O volume da TV parece aumentar involuntariamente e eu desperto. Troco de canal, abaixo o volume e volto a dormir. A cena se repete algumas vezes, até que eu desperto de vez. Então eu faço um esforço de mexer meu braço esquerdo em busca do celular, no chão, ao lado da cama. São oito horas da noite e está passando um filme qualquer na TV, que dessa vez permanece ligada. Assim como o velho companheiro incansável ventilador. E a lâmpada, que não faz tanto esforço. Somente brilha.

Meus músculos ainda não respondem a contento, mas a pressão da minha bexiga é a força maior que me motiva a levantar. Pela primeira vez no dia eu levanto. Faço minhas necessidades, uma leve higiene pessoal e volto pra cama. Me sento, de cabeça baixa pra não forçar os músculos do pescoço, e espero. Não sei o que, exatamente. Mas espero. Eis que surge um sinal: minha barriga ronca. Pudera. Devo estar há, no mínimo, 20 horas sem comer. Levanto, meio zonzo, e me dirijo à cozinha. Apalpando as paredes pelo caminho. Preparo o forno, coloco uma pizza para assar, me sento à mesa e espero alguns minutos. Como a pizza, e volto pro quarto.

Já são cerca de 11 horas da noite. Amanhã é segunda-feira e eu tenho compromissos. É hora de ir pra cama e dormir.