O famoso anônimo Toco Preto ganha um cd todo em sua
homenagem
Artur de Bem
A primeira rotação do disco passou comigo lendo o encarte.
Nunca li um encarte com tanta tranquilidade e serenidade. Mesmo com os tiros
que, dizem, terem disparado no morro onde moro na tarde em que me deliciava com
o disco.
Na segunda passada do disco, chorei. Chorei por causa da
beleza das músicas e com o esmero da execução. Mesmo conhecendo o pouco que
conheço de Agnaldo Luz e Luizinho 7 Cordas, sei que o trabalho foi realizado
com muito amor e competência, que lhes compete. É o primeiro disco autoral de
Agnaldo e o 2º de Luizinho, que tem 54 anos de carreira, e já participou de
outros tantos álbuns.
E Agnaldo Luz estreia brilhando. A começar pela escolha do repertório. Todo em homenagem ao grande chorão Toco Preto. Depois, pelo competentíssimo Regional que o acompanha: Luizinho 7 Cordas, Ricardo Cassis no violão, Gustavo Cândido no cavaquinho e Pedro Pita no pandeiro, e as participações de Leonardo Miranda na flauta, Nailor Proveta no clarinete, Yuri Reis no cavaquinho, Oswaldinho do Acordeon, e do próprio homenageado, Toco Preto, fazendo uma participação em uma faixa, no cavaquinho. E como bem disse Pedro Amorim no texto do encarte, “neste disco não tem nota jogada fora”. O CD tem 2 músicas inéditas de Toco Preto: "Malvina" e “Recordando os velhos tempos”, em parceria com Agnaldo.
E quem é esse senhor com apelido de entidade da umbanda? É
uma entidade do choro! Toco Preto, nascido Ormindo Fontes de Melo, é um dos
maiores cavaquinistas do Brasil. E por ser um dos grandes da nossa cultura,
quase que por regra, é um famoso anônimo. O apelido nada tem a ver com a
religião. Ganhou ainda criança, quando raspou o cabelo.
Aos 8 anos começa seu interesse pela música, por influência
do pai, que tocava cavaquinho. Aos 20, demonstrando muita habilidade em seu
instrumento, entra para a Rádio Mayrink Veiga, que na época era uma das
principais rádios do país. Já ostentando certo prestígio no meio musical, foi
convidado pelo compositor, pianista e radialista Ary Barroso para integrar o
conjunto musical do programa de calouros intitulado “A Hora do Calouro”,
programa que obteve grande êxito e sucesso por vários anos e até os dias de
hoje é copiado pela TV Brasileira.
A partir da década de 70 Toco Preto evidencia sua carreira como solista gravando 9 Lp’s. Em 1977, por iniciativa de Hermínio Bello de Carvalho, fundou, ao lado de Zé da Velha (trombone), Josias (flauta), Rubens (piston), Valdir (violão 7 cordas), Jairo (violão 6 cordas), Parada (surdo) e Jayme (pandeiro), o “Grupo Chapéu de Palha” e com o mesmo lançou dois Lp’s: o primeiro em 1977, e o segundo em 1979. Em 1980, com o fim do grupo, Toco Preto muda-se para São Paulo por intermédio de Pedro Sertanejo (pai de Oswaldinho do Acordeon), grande produtor de discos de forró e proprietário da gravadora Cantagalo, com a promessa de realizar inúmeras gravações, e assim foi feito.
Escondido em São Paulo desde a década de 1980, Toco Preto
estava quase esquecido. Muitos achavam que ele já tinha morrido. Agnaldo, que
mora na capital paulista, soube que o mestre estava morando na mesma cidade e
foi procurar conhecê-lo. Depois de alguns dias tentando marcar um encontro,
finalmente conseguiu agendar uma visita até a residência do mestre. Chegando
por volta das duas horas da tarde e saindo por volta da meia noite. Foi um bom
primeiro encontro. Dos encontros que se seguiram, Toco apresentou coisas que
Agnaldo nunca tinha ouvido, e Agnaldo apresentou coisas do Toco que nem o
próprio tinha.
Toco Preto teve a oportunidade de se apresentar ao lado de
grandes nomes da música brasileira além de Ary Barroso; Odete Amaral, Dircinha
Batista, Roberto Silva, Ciro Monteiro, Ademilde Fonseca, Gilberto Alves,
Orlando Silva, Orlando Correia, Claudete Soares, Luiz Gonzaga, Cartola, Nelson
Cavaquinho, Jamelão, Waldir Azevedo, Carmem Costa, Abel Ferreira, Altamiro
Carrilho, Otaviano Pitanga, Mario Pereira, Genival Lacerda entre outros.
Toco esteve ao lado de grandes nomes da música brasileira. Luizinho,
apesar do diminutivo, é grande! Agnaldo é novo. Mas nem por isso diminui sua
importância. Agnaldo é grande! Toco esteve ao lado de grandes nomes da música
brasileira e agora, ou já há algum tempo, se torna, ele mesmo, apesar de toco,
um dos grandes da música brasileira.
Dentre cerca de 300 músicas, e de um universo musical variado,
que permeou por guitarras, bandolins e cavaquinhos, Toco Preto tem composições
que vão de músicas pra gafieira até o choro. Para o CD, foram escolhidos os
choros, para se tocar por um regional. Foi gravado, basicamente, em 3 dias de
seção de estúdio. 18 horas de gravação. No último dia foram gravadas as participações.
Ensaiaram, ensaiaram, para poder passar o menor tempo possível no estúdio.
Gravando todos juntos. Como deve ser.
Esse CD é um marco na história do choro no país. Não houve
nenhum trabalho anterior deste tipo para servir como referência. Agnaldo e
Luizinho são a referência. São pioneiros. Medo da responsabilidade de ser
pioneiros? “Não. Acho que não. Quando a gente põe o coração e a boa vontade na
frente, as coisas acontecem com naturalidade. E a única coisa que a gente
esperava era a alegria dele (Toco). E isso a gente conseguiu. Acho que o objetivo foi
alcançado. O que vier agora é lucro”, responde Agnaldo.
Mais do que um belo CD, com belas músicas, belas execuções,
o CD consegue transmitir a alegria e a emoção do reencontro de velhos amigos
como são Toco Preto, Luizinho e Oswaldinho, amigos de longa data, recordando os
velhos tempos, e os de pequena data, como Agnaldo e os músicos do regional. É
um reencontro e uma reapresentação do Toco Preto aos músicos e ao mundo.
Toco Preto nasceu em 7 de junho de 1933. Hoje ele faz 81
anos.
Parabéns, Toco Preto! Você merece isso e muito mais!
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Um comentário:
Este com certeza é um dos belos trabalhos de choro da atualidade. Um disco muito bem produzido, belos arranjos com clima das antigas que na minha opinião era o que estava faltando. Meus parabéns à toda a rapaziada que fez parte disso.
Grande abraço.
Edinho
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