sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Rimar "amor" com "dor"

Uma das rimas mais fracas da música popular brasileira: "amor" e "dor".
Será???

Número um
(Benedito Lacerda / Mário Lago)

Passaste hoje ao meu lado
Vaidosa de braço dado
Com outro que te encontrou
E eu relembrei comovido
Um velho amor esquecido
Que o meu destino arruinou

Chegaste na minha vida
Cansada e desiludida
Triste mendiga de amor
E eu, pobre, com sacrifício
Fiz um céu do teu suplício
Pus risos na tua dor

Mostrei-te um novo caminho
Onde com muito carinho
Lembrei-te numa ilusão
Tudo, porém, foi inútil
Eras no fundo uma fútil
Fostes de mão em mão

Satisfaz tua vaidade
Muda de dono à vontade
Isso em mulher é comum
Não guardo frios rancores
Pois dentre os seus mil amores
Eu sou o número um















Para baixar o álbum, clique aqui

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Pega o Lenço e Vai

Sou saudosista. De um tempo que não vivi. Mas sou saudosista. Luto sempre pela tradição. Por uma cultura que tenha essência. Não pulo carnaval desde 2009. Sinto que é uma festa que perdeu a graça, a essência, o sentido.


Em uma cidadezinha rodeada de névoa constante, no final do ABC paulista, já na letra M, surge um bloco de samba que desfila sempre uma semana antes do carnaval. Não é um bloco carnavalesco. É um bloco de samba. O Pega o Lenço e Vai. Uma referência a um samba de Alcides Malandro Histórico da Portela e Monarco, e também ao primeiro tema (eles não tem enredo) do bloco, a Revolta da Chibata. O lenço tem um sentido para os marinheiros. Quando em combate, ele é amarrado na testa para evitar de escorrer suor no rosto. Quando não em combate, o nó do lenço, que ficava pra trás, é trazido para frente e deixa-se escorrer pela cabeça, terminando folgado no pescoço. E o lenço é, também, a fantasia do bloco. Doado para quem quiser desfilar. Cada ano de uma cor. Hoje o lenço tem um sentido pra mim. Resistência.

Todos os temas (eles não tem enredo) são afros. Fazendo a parte deles pra colocar em prática a lei 10.639, que inclui o tema no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e não essa baboseira de “história oficial”, escrita por brancos. Enquanto as escolas não ensinam, eles saem às ruas cantando a história. Ensinando a quem ouvir que o Brasil é um país de lutas, de resitência, que o negro sofreu, lutou, nunca se conformou com escravidão e maus tratos, e nunca vai se conformar. Ensinando que nosso povo é sim de luta, que tivemos heróis que lutaram, guerrearam, foram torturados, mortos, pra que hoje pudéssemos ter uma vida um pouco melhor. Em 2011, quando o bloco foi pra rua pela primeira vez, o tema foi João Cândido e a Revolta da Chibata. Em 2012, quando tive o prazer de desfilar pela primeira vez, o tema foi Luiza Mahin e a Revolta dos Malês. 2013 foi a vez de seu filho, o abolicionista Luiz Gama, o Trovador da Liberdade. Agora, em 2014, a Conjuração Bahiana e a Revolta dos Búzios.

Primeiro desfile do Pega o Lenço e Vai, em 2011

Danilo, Edinho, Kelly, Olívia, Marcelo, Isaura, Didi, Glick, Careca, Lo Ré, Hosana, entre outros, são, pra mim, o coração desse bloco.
Danilo é uma figura excepcional. Enterno guerreiro dos maloqueiros, dos marginais, dos pretos. É o autor do primeiro samba, e pra mim, até hoje, o melhor de todos do bloco, sobre a Revolta da Chibata.
Hosana é uma incentivadora fervorosa do bloco. Também segue a linha do Danilo de defender o sub-mundo. Não sei quem é o pior entre eles.
Edinho e Kelly formam um casal incrível. E a Olívia, filha deles, é uma coisa linda. Edinho é o cavaco principal do grupo e faz parte da ala de compositores. Kelly é dona de uma voz desgraçada de boa.
Marcelo e Isaura são outros dois da linha de frente. Marcelo é um diretor de harmonia e tanto. Também compositor. E quando não tá farreando, Isaura organiza tudo pra que a gente possa se divertir.
Didi é outra pastora forte. E o surdo do bloco. Ninguém tem audácia de colocar a mão no surdo quando ela tá presente.
Talvez o Glick, batuqueiro embaçado. Não há nada que Didi e Glick não saibam tocar. Nem o que ainda não foi inventado. Eles sabem tudo!
Careca é um cara que eu quase não vejo, mas sempre apresenta um samba brasa pro bloco. Compositor honesto.
Ainda faltam muitos nomes. Peço-me desculpas por não falar. A não ser Rafael Lo Ré. Pra mim é uma surpresa muito boa a sua participação. Ele, que não é de Mauá, abraçou a causa de uma forma surpreendente, com belos sambas e seu gogó possante.

Essa turma de Mauá, e agregados (de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Uberlândia, Belo Horizonte, Ouro Preto...), conseguiu montar um bloco de samba que desfila pelas ruas do Parque das Américas, em Mauá, trazendo de volta a essência do carnaval. Um carnaval feito do povo e que vai para o povo em forma de arte. Um carnaval sem envolvimento financeiro, sem troféu, sem glória. Somente a vontade de ir pra rua com algum sentido, com uma mensagem positiva, com alegria, com os amigos, confraternizar.

Esse bloco, do qual hoje me insiro, me trouxe de volta a vontade de pular o carnaval!

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Tuco em SC!!!

Pela primeira vez em Santa Catarina, Tuco Pellegrino fará um show em Blumenau neste sábado, 15, no Butiquin Wollstein, às 22h. A entrada é R$ 15.



A banda que vai acompanhar é formada por uma força tarefa de músicos de Blumenau, Balneário Camboriú e Florianópolis.
De Blumenau, o pessoal do Confraria: Carlos Silva, Beto Silva, Beto Santos e Marco Duarte. De Balneário tem Rodrigo Suave. De Florianópolis vão Dôga, Raphael Galcer, Clark Lima e eu, Artur de Bem.

Vai ser bacana!!!


Tuco

Fernando Pellegrino, o Tuco, foi fundador do extinto Morro das Pedras e também do Terreiro Grande, onde atuava como cantor e cavaquinista, ambos dedicados à ampliação de repertório, seja através de pesquisas em sebos e acervos particulares, seja através do contato direto com compositores e intérpretes. O Terreiro lançou dois álbuns, traduzindo o ambiente das rodas de samba que produziam e que se multiplicam realizadas por outros grupos em diversos bairros da periferia paulistana e município vizinhos.

Tuco Pellegrino faz parte de um grupo cada vez maior de músicos paulistas dedicados a realizar rodas de samba pelo prazer de apresentar composições ardorosamente pesquisadas e garimpadas. Um movimento crescente. Essa busca tem um fundamento importante: ainda há um grande acervo do gênero a ser revelado. Compostas na fase mais rica do gênero, são obras desconhecidas, de compositores igualmente pouco lembrados, mas de riqueza musical muitas vezes surpreendente.

Foi nas rodas de samba que aprendeu a cantar em alto e bom som, no gogó, como se fazia no passado com nomes como Ventura, Noel Rosa de Oliveira e Jamelão. Suas interpretações também nos remetem a grandes nomes das rádios dos anos 30 e 40 como Francisco Alves, Roberto Silva e Ciro Monteiro.

Criado num ambiente informal, foi pelas rodas de samba da vida que conheceu os outros integrantes do Batalhão, todos sambistas estudiosos que aprendem com muito afinco o que os mestres do samba deixaram.