segunda-feira, 23 de abril de 2012

Confraternização

Walter Rosa. Grande compositor da Portela. Famoso, entre outra coisas, por gostar de gostar de usar um linguajar rebuscado, usando, por vezes, palavras que ele não conhecia.

Não consegui retirar só o trecho específico do Walter Rosa, então vai tudo.
Carlos Monte, que já foi diretor do departamento cultural da Portela nos anos 70 e co-autor do livro "A Velha Guarda da Portela", junto com João Baptista M. Vargens, fala sobre o compositor, sobre a confraternização e outras coisas.



Segue as 3 confraternizações cantadas pelo próprio:

Confraternização
(Walter Rosa)


Envio aqui, musicalmente,
Cartões de boas festas
A todos os poetas e compositores
Espero que estes os encontrem contentes, gozando saúde
E felizes em seus amores
Zinco, lá dos Filhos do Deserto
Prefere sempre estar perto das florestas
Ouvindo os pássaros cantando
Cartola se afasta do morro mas não vai embora
A saudade lhe devora
De Carlos Moreira, Zagaia e Padeirinho
Com este último, com quem conversei bastante
Sobre um assunto interessante com Nonô do Jacarezinho
Ariosto Ventura de tanto dizer:
Vem morar comigo
Se andares direita te darei amor
Se errares te darei só castigo
Ilco, lá do Engenho da Rainha
Uma vez numa tendinha me chamou em particular
Walter Rosa, por Deus quero compor
Com você uma prosa que não relacione o amor

Silas, viga-mestre do Império Serrano
Lá do alto quando abre-se o pano
Aparece a cantar:
És a luz da minha vida para ela
A Serrinha em peso abre a janela
Para ouvir o seu cantor
Candeia, Waldir, Picolino
Manacéa, Alvaiade, Avelino
Monarco e Chatim
Padrões de talento da Portela
Os seus valores não tem fim


Confraternização nº 2
(Walter Rosa)


Renovarei
Votos de estima aos poetas
E compositores já citados
Chegou a vez
Daqueles que ainda não foram lembrados
Que vivem escondidos por aí
Com lindas melodias
Que o povo quer ouvir
Noel e Anescarzinho do Salgueiro
Quando lançaram no terreiro
O samba que o brasileiro vibrou
Chica da Silva do cativeiro zombou
Cícero e Hélio Cabral da Estação Primeira
Diz que a semente do samba quem possui é só Mangueira
Ramon Russo ao passar pelo Império foi um caso sério
Com aquele tal de Timbó
Foi notória a presença de
Osório Diz o que quis no samba tango
E escreveu como ele só, assim redigiu
Dançando me viu e fingiu que não viu
Com aquele cavalheiro ela saiu

Valter Coringa só escreve o fino e bacana
Assim como o grande Cabana
Aidno, Catoni e Evancoé
Este que fez sua transferência pra Portela
Tal qual o Jair da Capela
Hoje com Jorge Bubu e Casquinha defendem Oswaldo Cruz
Aonde a música seduz


Confraternização nº 3
(Walter Rosa)


Parabenizaram-me
Muitos ficaram aborrecidos
Foi aquele 'zum zum zum'
Dentre os que não foram incluídos
Levaram a cópia do original
Da Fraternização nº 1
Ao conhecimento de um jornal
Garanto que não foi nenhum dos valores escondidos
Que existem por aí
Por exemplo o Everaldo que eu conheci

Na residência de Antônio Candeia
Para mim foi um dia feliz
Assim como vivem felizes
Carlinhos Sideral, Velha, Matias e Bidi
Enquanto possuirem o samba na veia
Defenderão a sua Imperatriz
Quem não conhece o talento de Tolito, Geraldo Babão
Zuzuca e Darci, que só faz samba bonito
Mantive um papo sadio com Aurinho da Ilha
Sobre Paulinho da Viola e o seu sucesso 'Sei lá não sei'
Chegou Jorginho dizendo:
Gravei um LP que é só maravilha
Os autores são Pelado, Preto Rico e Leléo
Mostrou-se muito empolgado
Com Martinho de Vila Isabel
Que está com a bola branca
E promete ocupar o trono de Noel


Walter Rosa usa trechos de sambas de alguns compositores, histórias de outros, tudo isso envolto em uma história e uma melodia atraente e singular.

É Walter Rosa registrando a história fazendo história. Metalinguagem total!!

Salve, Walter Rosa!

Nenhum comentário: