sexta-feira, 30 de março de 2012

Um Bom Partido no Bar do Noel


Samba é resistência.
Fazer samba é uma diversão, mas não é brincadeira.

Isso é desde os tempos mais primórdios, quando era proibido, quando pessoas eram presas por andarem com um pandeiro embaixo do braço.
O executar um samba num bar não é somente executar um samba num bar. Qualquer pessoa que se digna a executar um samba tem que ter em mente que este ato é um ato de resistência, de enfrentamento a uma cultura que insiste em ser desviada para caminhos estranhos, mas sempre volta a si quando um samba é entoado.

Por isso não posso ser tão flexível quando o assunto é samba. Me sinto obrigado a colocar os pingos nos is e ser radical nas minhas posições. Se me prontifiquei a viver para isso, tenho que entrar de unhas e dentes e evitar que seja deturpado. Enfrentando quem e o que quer que seja. Evitando que, aos poucos, o samba seja desvirtuado para uma coisa qualquer, sem fundamento, sem história, sem emoção.

Ninguém toca samba por tocar. Ao menos, não deveriam. No samba existe um axé, como tem na capoeira, no candomblé, ou qualquer outra manifestação afro. Me arrisco a dizer que existe axé em qualquer manifestação que envolva louvação a alguém já falecido, como costumeiramente acontece no samba. Quando não existe um axé bom, não tem samba bom.

Quando se toca um samba, não se toca um samba simplesmente. Há todo um ritual que envolve uma roda de samba. Porque o samba só é samba quando vem do povo e para o povo. Quando há uma execussão musical do gênero samba em uma casa noturna, no palco, longe do povo, com itens distanciadores, como o ingresso, deixa de ser samba. Passa a ser uma simples execussão musical do gênero samba.

E dentro do ritual da roda de samba, enquanto executamos os sambas, estamos louvando aqueles compositores, alguns já falecidos. Estamos falando de forças extra terrenas. De energias que rondam a roda. O axé.
A cada samba executado de um compositor diferente, ou quando se louva um cantor, ou um instrumentista, o axé é renovado.

E o axé que existe aos sábados no Bar do Noel, na roda do Um Bom Partido, é muito bom.

Digo isso porque frequento o Bar do Noel desde quando é Bar do Noel - não frequentava quando era Bar do Petit -, mesmo quando não tem samba.

Digo isso porque no samba de sábado podem ser encontrados os melhores músicos em suas respectivas áreas, na sua linha de samba.

Digo isso com a propriedade de quem já frequentou praticamente todos os sambas da cidade e esse ser o único lugar que me tira de casa.

Digo isso depois de muito criticar, brigar, elogiar, brigar, discutir. Aprendi que as moças que comandam aquela roda há mais de 3 anos, e comandam o grupo há mais de 13 anos, não vão lá todo sábado pra brincar de fazer samba. Estão lá cantando músicas que ninguém canta em lugar nenhum da cidade. Os músicos idem. Executando gêneros musicais que não se executa em lugar nenhum da cidade. Deixando de marcar outros compromissos, como com a família, para ganhar 50 reais por dia, debaixo de um sol do meio dia, tocando 4 horas, perdendo um dia inteiro que poderiam estar curtindo seus filhos ou produzindo algo para si. Mas estão lá enfrentando tudo e todos. Todos aqueles que não dão bola pro samba e só querem pagode. Aqueles que não dão bola pro samba e só querem mulher ou homem. Aqueles que não dão bola pra manifestação cultural que acontece gratuitamente e pacificamente e que querem fechar o bar. Enfrentando o Estado, que deveria chamar a responsabilidade pra si e ofertar cultura para a população, mas que não faz força nenhuma para ajudar e não mede esforços para tentar fechar o bar e acabar com o samba de todas as formas. Mesmo assim, o samba está lá. Resistindo. Enfrentando. Isso é o samba.

Viva o samba!
Viva o Bar do Noel!
Viva o grupo Um Bom Partido!
Viva a resistência cultural!

2 comentários:

Thiago do Nascimento disse...

Mandou bem. Muito bem...

Joelma disse...

Sou Joinvillense e fã do grupo Um Bom Partido... Amo a músicalidade deles... Preciso conhecer esse bar com urgência!!! Bjs