quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Alcides Malandro Histórico da Portela

Alcides Dias Lopes, mais conhecido como Alcides Malandro Histórico da Portela.
Tem esse apelido por ser da época da fundação da Portela, ter conhecido todos os sambistas da época, inclusive de outras regiões do Rio e por conta de andar por muitos redutos, acumulava histórias desses locais todos e, claro, da sua Portela. Hoje, seu discípulo no quesito memória é o Monarco, que guarda com carinho muitas histórias do mestre Alcides, entre outras.

Alcides era uma das vozes da Portela, no tempo em que as segundas eram improvisadas. Ele, João da Gente e Ventura eram os mestres de canto da Portela.

Nos vídeos, ele fala sobre o primeiro torneio de escolas de samba, na casa de Zé Espinguela (ou Espinguele), quando a Portela (Vai Como Pode) foi vencedora, mas o Zé teve que dar prêmio pra Estácio (Deixa Falar) e pra Mangueira (Estação Primeira), pra não haver briga.



No outro vídeo, o mestre improvisando.


Crédito para que esses vídeos viessem à tona: Barão do Pandeiro!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Vida de músico

Só queria pedir a compreensão de uns e outros que ainda dizem que músico é vagabundo, que só vive na madrugada, só vive de bar em bar, vive fazendo música, etc. Isso tudo é verdade - menos a parte do vagabundo. Mas é um serviço. Um emprego. Um trabalho. Enquanto dormes, ele trabalha. Enquanto o músico dorme, trabalhas. Não há diferença nenhuma.


Então o sujeito resolve ser músico.

Passa horas em casa escutando músicas. Não por prazer. Muitas vezes por obrigação. Pra escutar com detalhes cada parte da música. Se é cantor, dá mais atenção à letra, melodia e interpretação do cantor daquela música. Se tem mais uma gravação, ouve-se as outras gravações pra conhecer os outros arranjos e outras interpretações.
Se é músico de harmonia, dá mais atenção à melodia, interpretação do cantor e em todos os instrumentos de harmonia. Principalmente no seu. Se tem mais uma gravação, idem.
Se é percussionista, melodia, interpretação do cantor e em todos os instrumentos de percussão. Principalmente no seu. Se tem mais uma gravação, idem.

Lá se vão algumas horas de estudo.

Sim. Estudo. Pois quando um músico ouve música não é somente por prazer. Dependendo do vício do músico pelo trabalho, todas as vezes que escuta uma música qualquer, tira algum proveito, faz alguma crítica pessoal sobre a música.

Depois há os ensaios com o grupo.
Gasta-se com passagem de ônibus, ou gasolina, dependendo do local do ensaio. E cansa. Geralmente, o tempo empregado no ensaio costuma ser o mesmo de uma apresentação. Lá se vão mais algumas horas de estudo.

Sim. Estudo. Pois quando o grupo se encontra, não é somente por prazer. O intuito não é sentar e tomar uma cerveja ou cachaça. Por mais que isso aconteça, há estudo. Ensaio. Pra todos terem em mente o que fazer exatamente na hora da apresentação.

E aí chega a hora de apresentação.
Digamos que o show seja às 22h.
O músico tem que estar no local, pelo menos, às 21h pra passar o som. O músico chega no local, descarrega todos os instrumentos, monta o que tem que montar, passa cabo, levanta pedestal, arrasta caixa de som do retorno, etc. Equaliza os instrumentos, volume, voz, do grupo todo, pra que o público ouça a música com a maior perfeição possível. Sem um instrumento mais alto que o outro, atrapalhando a harmonia do grupo.

Aí vem a apresentação.
Veja bem. Até agora o público não ouviu a música. E o músico já teve certo trabalho.
Quando o músico não tem roadie, ele passa o show inteiro preocupado com o som que o público está ouvindo. O som que o público ouve muitas vezes não é o mesmo som que ecoa no palco.

Enquanto o público está no seu momento de lazer, o músico está trabalhando. E por vezes o músico não está com vontade de tocar. Mas toca por obrigação. É seu ganha-pão. Se não tocar, não recebe.
Ou vai dizer que o leitor tem vontade de ir trabalhar todo dia, por mais que seja sentadinho numa sala com ar condicionado na frente de um computador?

Quando acaba o show, as vezes o público pede mais um. Um sinal de valorização do trabalho. E lá vai o músico tocar mais uma música em respeito ao público.
Findado o show, por volta de meia noite, 1h da manhã, o público vai embora. O músico não.
Depois de 2h, 3h de show, o músico ainda fica para comer, beber, quando a casa oferece - algumas casas vendem -, receber o salário e fazer o serviço inverso do palco. Desmontar pedestal, mesa de som, cabos, guardar instrumentos, etc.

Por vezes o dono do estabelecimento vem com uma conta na mão das águas, refris e cervejas que o músico usou durante o show.
Descontados daqui e dali, não é incomum sobrar míseros R$ 60. E não conheço nenhum músico que toque todos os dias do mês. No máximo, quatro vezes por semana. Façam os cálculos se quiserem.
Músico é autônomo mas tem chefe. São os donos dos estabelecimentos que o contratam.

Diante disso tudo, lhes peço: Por favor, mais respeito com o músico!

Obrigado.