quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Desculpas públicas a Sinhô

Venho a público pedir minhas sinceras desculpas ao Rei do Samba, Sinhô!



Certa vez eu fui convidado para apresentar um show. O texto era meu. Tentei buscar um lado incomum, coisas que nem todos conhecem sobre os compositores das músicas que seriam apresentadas.

Com Sinhô, cometi alguns deslizes.

Primeiro - Ele não é auto intitulado Rei do Samba. Ele era intitulado por jornalistas, cronistas, amigos e pelo povo em geral, que adorava as músicas de Sinhô e se via nelas. Sinhô era um compositor popular. Suas músicas caíam fácil na aceitação do povo.
Segundo - Eram suas músicas. Não plágios. Muito menos roubo!

Havia, na época, reclames de alguns compositores, como Heitor dos Prazeres, de que certas músicas de Sinhô seriam, na verdade, de outras pessoas. Acontece que nunca apresentaram provas contundentes de que Sinhô teria plagiado, ou roubado, samba de outros.

É fato que Sinhô se inspirou em valsas estrangeiras para compor músicas. É fato que Sinhô se apropriou de versos que já estavam ficando no ostracismo, ou se tornado de domínio público - quando ainda não havia um órgão fiscalizador - para criar suas obras. Há quem defenda isso como sendo malandragem ou ato sem maldade, pensando apenas em resgatar os versos a fim de não deixar cair no esquecimento.

De qualquer forma, essas músicas seriam uma parcela muito pequena diante das mais de 150 músicas compostas por Sinhô.

Sendo assim, registro aqui meus sinceros pedidos de desculpas ao Rei do Samba!

Um comentário:

Luiz Henrique disse...

É verdade que, atualmente, se comete uma injustiça muito grande com o nosso Rei do Samba, José Barbosa da Silva, o Sinhô. Muitos não o conhecem e dentre aqueles que têm conhecimento sobre sua carreira, alguns o acusam, sem fundamentação, de plagiário. Acho louvável seu pedido de desculpas, Artur de Bem, e teço aqui os seguintes comentários:

1)Sinhô, juntamente com outros frequentadores da casa da Tia Ciata, foi quem primeiramente sofreu o prejuízo de ter uma música de sua co-autoria registrada como se fosse de outro autor, fato ocorrido com “Pelo Telefone”, de quem se apoderou Donga.

2)Quem usa expressões já a caminho do ostracismo como “quem é bom já nasce feito”, “achou ruim faz meio dia” etc., de modo algum pode ser acusado de plágio e, mesmo nos dias de hoje, se uma expressão surgida mais recentemente, do tipo “tá barato pra caramba!” for utilizada em música, o autor não poderá ser penalizado por isso.

3)Sinhô era muito orgulhoso para se permitir apoderar-se de versos dos outros e, se, por acaso, se apropriou de uma ou outra frase de alguém, colocando-a numa de suas composições, com certeza não foi o único, pois isso era uma prática muito comum entre os compositores da época. Faziam-no inconscientemente!

4)Quanto a outros autores acusarem-no de roubo de música, a principal acusação foi de Heitor dos Prazeres, mas aqui transcrevo um texto do livro “As Mil Canções do Rei da Voz”, onde Abel Cardoso Júnior contesta esta acusação: “Não acredito na reivindicação de autoria que Heitor dos Prazeres sempre fazia. A melodia de Cassino Maxixe estava pronta e completa em 1926 e não é plausível que Sinhô tivesse deixado de lado a ótima e suposta letra de Heitor dos Prazeres em favor da letra de Bastos Tigre, só a fazendo retornar dois anos depois”. A letra a que se refere Abel é a de “Gosto Que Me Enrosco”, 1928.

É isso aí! Para mim, Sinhô foi o mais importante compositor surgido na primeira metade do século XX. Com isso não afirmo que ele tenha sido o melhor compositor, mas sim o mais importante.