segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Falar sozinho

Sempre falei comigo mesmo. Discuto, respondo... tudo entre eu e eu mesmo.
Certa vez, tive uma discussão feia e fiquei alguns dias sem falar comigo.

Falar consigo mesmo é bom. Se não há com quem desabafar, desabafe só. Melhor ainda pros esquizofrênicos, autistas, bipolares, que podem se auto consolar, com palavras de conforto.

Quem fala sozinho é considerado maluco. Os incompreensíveis são considerados malucos. Os gênios também são considerados malucos. Muitos dos gênios que conhecemos falavam sozinhos e eram incompreensíveis.

Esses dias passei por uma pessoa desacompanhada, séria, passos firmes, trajando roupas com tamanho adequado ao corpo, limpas, completa, falando sozinha. Após um breve recesso, como quem estivesse ouvindo a resposta, tornou a falar. Percebi que as respostas não eram bem aquilo que ela desejava ouvir, pois sua expressão e tom de voz mudavam constantemente. Sempre na linha do séria. Acompanhei-a pela rua até o fim de sua conversa. Ela estava no celular, usando um fone de ouvido. Ou seja, não falava sozinha.

Aquele sujeito que você encontra pela rua, aparentemente sempre feliz, com passos irregulares, não estranho se exalar um odor de açúcar em estado sólido natural depois de fermentado, com roupas de tamanho geralmente menor do que o corpo, doadas por algum varal, já sujas, um pé com sapato e o outro descalço, costumeiramente acompanhado de um cachorro, de vez em quando fala sozinho. Ou com o cachorro, quando o acompanha. Por vezes, ouvimos somente aquilo que desejamos ouvir. A resposta que ele obtém, dele mesmo, dessa conversa aparentemente solitária deve ser satisfatória pois ele continua falando.
Esses sujeitos são profetas! Falam sozinhos e são incompreensíveis. Gênios!!

A vida ensina. E esses, por viverem somente na rua, são PHDs na vida. Sabem de tudo. Passíveis de palestrar em qualquer ambiente. Não compreendem um funcionamento da bolsa de valores, de uma faculdade ou de um computador. Mas quem disse que precisamos? Compreender a vida é e vale muito mais que isso.

Todos falam sozinhos. Ou deveriam. É um bom exercício.
Vergonha é poder roubar e não poder carregar.

Não compreendeu o texto?
Sou um incompreensível.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O o o o... o Noel voltooo !!!

E o Bar do Noel reabre as portas!

Depois de um longo e tenebroso inverno de uma semana sem samba, o Bar do Noel reabre, sob nova direção, e já estão sendo retomadas as atividades semanais de samba.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Noel Rosa morreu! E nem completou 26 anos!

Tudo na vida tem começo, meio e fim.
Pelé foi um gênio porque, além de jogar um futebolzinho mais ou menos, era inteligente. Soube, inclusive, a hora de parar, no ápice de sua carreira, pra fechar com chave de ouro.

Ninguém é insubstituível.
Todo mundo pode ser trocado por qualquer coisa. Ainda mais no mundo de hoje, onde os itens de valor estão cada vez mais se tornando dispensáveis, meros detalhes.

Sempre falei que o Bar do Noel era o melhor ambiente da cidade e que o samba feito lá, aos sábados, era a melhor, se não única, e que nem por isso deixaria de ser a melhor, roda de samba da cidade.
O clima do buteco era muito bom. O clima da roda era muito bom. Tudo era muito bom.
Nem tudo, óbvio. Mas alguma coisa era até relevada.

Em todo lugar existe as pessoas boas e os chatos. No Noel não era diferente.
Sempre gostei dos undergrounds que andavam por lá. Até porque, desde que eu conheço aquela região (Ratclif, João Pinto), eles sempre dominavam o espaço. E o samba que era executado aos sábados é underground. Não só pelo repertório, mas pela instrumentação, o clima, a confraternização, tudo. É algo fora dos padrões, fora da moda, fora de qualquer possibilidade de entendimento das mentes sãs.

Infelizmente, com o passar do tempo, os undergrounds nativos foram deixando de frequentar naturalmente, sem desrespeito. Até aí, nada de mais.
O problema é que, recentemente, surgiram vários "donos" do espaço. Não só do bar, mas da Travessa, do samba, do sábado...
Não sei cozinhar, mas sei que se duas pessoas mexerem na mesma panela, a comida desanda.

Com grandes poderes, surgem grandes responsabilidades. Ser "dono" de um grupo musical, por exemplo, significa, praticamente, ser dono de uma empresa, onde os outros integrantes do grupo são os funcionários que fazem a empresa ir para frente. Apesar de ser um trabalho gratificante, deve-se saber administrar, pois um erro pode levar ao fim do grupo (empresa), e a consequente demissão dos integrantes (funcionários). Imagina, então, ser dono de uma empresa onde acontece semanalmente a apresentação de um grupo musical.

Devemos, sempre, respeitar os mais velhos, aqueles que chegaram primeiro. Quem é do samba, tem isso incrustrado nas veias.
Nunca se começa nada do marco zero. Primeiro, porque o tempo é cíclico. As coisas sempre se repetem. E segundo, porque sempre há uma história antecedendo a sua, e que não deve ser ignorada.
Obrigado, Seu Edson! Que reabriu o antigo Petit, ou apenas mudou de nome (não sei bem ao certo), e teve vontade, coragem, peito e responsabilidade ao iniciar algo que virou história na cidade, com o grupo Bom Partido. Uma história que respeitou o passado e deve ser respeitada no futuro.

O Bar do Noel cerrou as portas. Por tempo indeterminado. Mesmo sabendo que um dia ia acabar, assim como se sabe que depois da vida há a morte, a gente fica triste. Mesmo imaginando que o bar volte um dia, assim como volta um amigo de viagem, a gente está triste. Mesmo que o samba volte, assim como reatam os namorados, não será como era antes. Nunca é. E eu fico triste por isso.

Por isso, e pela falta de sensibilidade de alguns em não conseguir vislumbrar toda beleza que havia lá. Toda a magia. Toda a história.

Mas tudo bem. Ainda temos ar nos nossos pulmões, sangue em nossas veias, samba em nossa alma. Devemos agora lembrar dos tempos bons que passamos lá. Esquecer o passado ruim e nos reencontrarmos. Em algum samba por aí.

A gente era feliz. E sabia!