terça-feira, 26 de outubro de 2010

Coração delator

É verdade! Sou muito nervoso. Mas não sou louco! E meu ouvido sempre foi muito bom. A doença não entorpecera meus sentidos. Antes, aguçou-os.
Eu ouvia todas as coisas: do céu, da terra. Até do inferno. Como, então, sou louco?

Ouçam: uma ideia penetrou no meu cérebro. Sei lá como. Sei que ficou comigo, dia e noite. Era uma música. Mas não era qualquer música. Era uma canção. Eu ouvia as notas suaves provenientes de uma flauta. Uma atrás da outra. Sem parar. Dós, fás, sis. Quando percebi que ninguém por perto tocava tal instrumento. Nem eu.

Pensei em colocar essas notas em um papel, para não esquecer. Não conseguia. Não entendo nada de música. Não sei ler partitura. Procurei alguém para me ajudar. Tinha que ser rápido. As notas não paravam de chegar. Tinha que fazer um esforço sobrenatural para não esquecer o começo. Quando esquecia, a música começava de novo. Passei 3 dias com a melodia na cabeça, sons de flauta no ouvido e sem encontrar ninguém para me ajudar a colocar em um papel.

Eu não comia, não dormia, suava. Podia esquecer tudo e simplesmente voltar a trabalhar. Mas aquela música me fazia bem. Não conseguia fazer nada com ela na cabeça. Nem sem ela.

Encontrei um amigo que finalmente me ajudou a transpor tudo para o papel. Que incrível! Uma música minha. Só minha!

Ao final da música, fui percebendo que já a conhecia. Todo mundo conhecia. Meu amigo começou a tocar no violão. Impulsivamente cantei: "Meu coração, não sei porque, bate feliz, quando te vê...".

Não sou compositor. O coração de Braguinha me entregou.


Fiz esse texto em 2 de agosto de 2005 para um trabalho da faculdade e o encontrei perdido na minha gaveta.

3 comentários:

Samira Moratti disse...

Muito legal, Artur! Gostei dessa tua veia literária. Expresse-se mais, você tem potencial ;)
Abraços
Samira

Artur de Bem disse...

Correção de um ato falho:
A melodia dessa música é do Pixinguinha. Braguinha fez a letra!

Mas serve pra chamar atenção. Ninguém lembra do Braguinha quando citam essa música.

Jorge Jr. disse...

Achei que Braguinha era o pseudônimo do Pixinguinha.

Porém, que aula era essa? Te conheci em 2006, logo, é antes do Messa.