quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Hoje é o Samba



O grupo de choro Ginga do Mané está organizando um samba no Projeto 12:30, da Ufsc, no dia 26, quinta-feira, no Teatro da Igrejinha da Universidade, de graça.

O grupo fará um evento para comemorar o
Dia Nacional do Samba (02/12) e, pra isso, chamou amigos de peso: Jandira, cantora do grupo Um Bom Partido, Seu Ari, da Velha Guarda da Copa Lord, no tamborim e agogô, Julio Córdoba no violão de 6 cordas e Dôga na percussão.
O Ginga é formado por
Fernanda da Silveira no cavaco, Fabricio Gonçalves no pandeiro, Raphael Galcer no violão de 7 cordas e Bernardo Sens na flauta.

A apresentação do show fica por minha conta,
Artur de Bem.

Mais informações, com a Fernanda: 8402-1151.


Show
Hoje é o Samba, 26/11/09, no Teatro da Igrejinha da UFSC, no Projeto 12h30
Grupo Ginga do Mané e convidados
Jandira / Dôga / Seu Ari / Julio
Texto e apresentação: Artur de Bem


1. Cheguei (Pixinguinha)
Pixinguinha foi o maior músico que tivemos! Talvez, um dos maiores do mundo. E essa informação tem o respaldo de todos os outros grandes músicos. Vinicius de Moraes disse, um dia, não conhecer figura tão excepcional quanto Pixinguinha. E Vinicius conhecia bastante gente.
Pixinguinha foi especial.
Aqui, o primeiro da Santíssima Trindade.

2. Pelo Telefone (Donga / Mauro de Almeida)
Donga foi, talvez, o maior responsável pela preocupação dos compositores em registrar suas obras. Segundo Heitor dos Prazeres, o refrão deste samba era cantado por todos na casa de Tia Ciata (antigamente não havia segundas partes, o pessoal improvisava), e ninguém saberia dizer, ao certo, quem era o autor. Donga registrou este como sendo seu, causando certo desconforto entre os outros sambistas freqüentadores da Tia Ciata. O jornalista Mauro de Almeida fez uma paródia do samba para uma reportagem sobre cassino e publicou no jornal. A paródia fez tanto sucesso quanto a original. Hoje, se cantam das duas formas e a autoria foi dividida.
Donga é o segundo da Santíssima Trindade.

3. Jura (Sinhô)
O auto intitulado Rei do Samba. Infelizmente, Sinhô é muito conhecido por roubar músicas dos outros, o que poderia até diminuir sua credibilidade. Não para nós. Sinhô tinha, sim, essa malandragem de embebedar outros compositores e pedir para eles executarem a obra várias e várias vezes, enquanto um amigo de Sinhô escrevia a partitura escondido atrás de algum biombo. Após isso, corriam para a rádio dizer que tinham feito um samba novo.
Mas Sinhô também era compositor de verdade, além de um músico extraordinário. Incapaz de ler uma linha sequer de partitura, tocava de ouvido. Seu instrumento era o piano. Certa vez em um cabaré, colocaram uma partitura em sua frente e pediram para executar tal obra. Sinhô, malandramente, disse que não poderia, pois não se dava com o autor.

4. Batuque na Cozinha (João da Baiana)
Exímio tocador de prato e faca e pandeiro, compositor, improvisador, dançarino, João da Baiana foi preso por portar um pandeiro, quando se dirigia à Festa da Penha. Quando o senador Pinheiro Machado, seu amigo, soube do ocorrido, mandou soltá-lo, mandou fazer um pandeiro novo, talhar no corpo do instrumento os dizeres “Do senador Pinheiro Machado para João da Baiana” e o presenteou.
João termina a formação da Santíssima Trindade da Música Popular Brasileira.

5. Se você Jurar (Ismael Silva / Nilton Bastos / Francisco Alves)
Ismael Silva foi o fundador da primeira escola de samba, a Deixa Falar. O termo Escola de Samba foi criado pelo fato da sede do bloco ser ao lado de uma escola comum, e pelo fato do bloco ser repleto de grandes sambistas que acabavam ensinando samba às outras pessoas, até para o pessoal da Portela (então Vai Como Pode) e Mangueira (então Estação Primeira), na época em que as escolas de samba ensinavam samba. Ironicamente, a Deixa Falar nunca foi registrada como Escola de Samba, apenas como Bloco Carnavalesco e, mais tarde, Rancho Carnavalesco. De Escola de Samba, tinha, apenas, o apelido.
Ismael foi, também, o responsável pela mudança de andamento do samba amaxixado da época. Houve até uma discussão proposta pelo pesquisador Sérgio Cabral entre Ismael e Donga. Ismael dizia, sobre o samba de Donga: “Isso não é samba, é maxixe!”, ao que Donga respondia, sobre o samba de Ismael: “Isso não é samba, é marcha!”. Alguém se arrisca a dar um palpite?
Uma dia dois amigos se encontraram num bar:
- Você viu o Ismael?
- Quem?
- Ismael! Não conheces?
- Não!
- Você não conhece Ismael Silva????
O rapaz se levanta, bate continência e diz:
- Você está falando do Grande Ismael Silva?

6. Agora é Cinza (Bide / Marçal)
Também da Estácio, assim como Ismael, Bide e Marçal estão entre as maiores duplas de todos os tempos. Bide dizia que eles se completavam. A ligação que eles tinham era tamanha que, quando da morte de Marçal, Bide parou de compor e se dedicou à atividade de percussionista de rádio e das gravadoras. Dois grandes bambas da Estácio, exímios percussionistas e excelentes compositores. Bide inventou o surdo e uns atribuem a ele a invenção do tamborim, apesar dele mesmo declarar não ter certeza disso.
Marçal é o primeiro da dinastia Marçal, que hoje está na terceira geração.
Esta música foi a primeira parceria dos dois.

7. Alvorada (Cartola / Carlos Cachaça)
Terminada Estácio de Sá, vamos para Mangueira, fundada por Cartola e Carlos Cachaça, grandes amigos e parceiros, entre outros sambistas. Na década de 70, Cartola ficou de longe dos desfiles da Mangueira, por não conseguir seguir o andamento das escolas de samba.
Cartola foi dono de restaurante: o Zicartola. Ele era o gerente e Dona Zica, sua esposa, a cozinheira. Como gerenciar conta de bêbados amigos não era o forte, o restaurante faliu, não sem antes revelar grandes nomes do samba como Paulinho da Viola, Nelson Sargento, Anercarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, como Rosa de Ouro, Clementina de Jesus, etc.
Um dia, Heitor Villa Lobos ouviu uma música que Cartola tinha recém composto e disse: “Ta tudo errado, mas ta ótimo!”.

8. Minha Vontade (Chatim)
“Da Mangueira tem Carola, do Estácio, Ismael. Da Portela tem o Paulo, que é o nosso Deus do Céu!”
A Portela é um celeiro de bambas. Além da quantidade, há a qualidade. A Portela detinha a mais respeitada ala de compositores. Dentro dela, Chatim.
Infelizmente não há muitos detalhes sobre a sua vida, mas Chatim fez parte do grupo musical da Velha Guarda da Portela, gravou algumas de suas músicas e deixou outras tantas não gravadas. Recentemente, um áudio gravado por Candeia com uma segunda parte, inédita, de um de seus sambas foi descoberto e está circulando pela internet.

9. As Forças da Natureza (Paulo César Pinheiro / João Nogueira)
João Nogueira foi o criador do Clube do Samba. Não só da música, mas do Clube em si, que tinha a sede no quintal de sua casa e reunia grandes sambistas.
João era um excelente intérprete. Suas divisões melódicas são inigualáveis.
Paulo César Pinheiro foi casado com Clara Nunes e, junto com João Nogueira, era presença garantida nos álbuns da Guerreira.
Excelentes letristas, melodistas, poetas, essa dupla marcou história no samba.

10. Partido Alto da Clementina de Jesus (Candeia)
Sou suspeito de falar, mas Candeia foi o maior sambista de todos os tempos. A lista de elogios é extensa, então vou tentar resumir: Respeitava os mais velhos, criava, respeitando as tradições, tocava cavaquinho, violão, percussão, compunha letra, melodia, cantava, e, muito importante, conhecia os fundamentos.
Fundou o Grêmio Recreativo Arte Negra Escola de Samba Quilombo em 1974, por não aceitar o que estava acontecendo com o carnaval e com as escolas de samba, que estavam deixando de lado os verdadeiros responsáveis pela criação do carnaval e das escolas: os sambistas, os pobres e os negros.
Sambista, chorão, capoeirista, jongueiro, foi um grande líder do movimento negro.

11. Timoneiro (Paulinho da Viola / Hermínio Bello de Carvalho)
O grande Paulinho da Viola seja, talvez, o último dos sambistas-chorões, com passagem fácil por essas duas vertentes, e que executa tão bem as duas modalidades.
Em sua primeira visita à quadra da Portela, já arranjou uma parceria de peso. Casquinha ouviu uma primeira de Paulinho, foi ao banheiro e retornou com uma segunda que se encaixou perfeitamente. Estava feito o samba Recado, e selada a entrada de Paulinho na mais respeitada ala de compositores, da Portela.
Em 1970, juntou o pessoal da Velha Guarda da Portela e produziu o primeiro álbum da Velha Guarda. Hoje ele é padrinho da Velha Guarda e pede a bênção pros seus afilhados.

12. Tia Eulália na Xiba (Nei Lopes / Cláudio Jorge)
Nei Lopes é um grande pesquisador da cultura negra. Autor de livros, dicionários, sambas, jongos, e outros estilos musicais. Fez muitos sambas de sucesso, principalmente com seu parceiro mais constante: Wilson Moreira.
Nei, hoje, costuma fazer sambas com um grupo de samba de São Paulo e alimenta um blog com contos, causos, histórias e demais informações interessantes.

13. Cantar (Teresa Cristina)
Chegando na nova geração, Teresa Cristina surge em 1998, no movimento de revitalização da Lapa. Cantora, compositora, portelense, Teresa tem músicas em parceria até com Argemiro Patrocínio. Chegou ao mercado regravando músicas de Paulinho da Viola, e hoje já grava suas próprias músicas.
Teresa é facilmente encontrada na Lapa.

14. A Fina Flor (Jandira)
Também da nova geração, temos a Jandira, maior partideira do Brasil, quando venceu o primeiro torneiro, em 2002, no Rio de Janeiro.
Cantora, compositora, percussionista, improvisadora, fundadora do grupo Um Bom Partido, Jandira está em qualquer lista que se preze sobre as figuras mais importantes do samba de Florianópolis.

15. Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira)
Terminamos aqui esta humilde e pequeníssima, diante do vasto mundo do samba, cronologia do samba com o maior compositor de samba enredo de todos os tempos. O que quase ninguém sabe, é que Silas de Oliveira é, também, um excelente compositor de samba de terreiro.
Faltando alguns minutos para o desfile da Império Serrano de 1964, em homenagem a Ary Barroso, chega à concentração a notícia de que Ary, autor de Aquarela do Brasil, havia falecido. Foi, talvez, o desfile mais emocionante da escola.

5 comentários:

Dôga disse...

Esse show foi 10
AAAAAi q maluuuco

Unknown disse...

Arthur,

saudações e parabéns por este trabalho. Muitas pessoas não sabem o quanto representa a nossa memória, ontem, hoje e no futuro. Cada vez mais precisamos que as pessoas tenham conhecimento de nossos costumes, valores e histórias. O samba é o canto do povo em quase todas as esquinas deste Brasil esquecido pelos representantes políticos. Em cada esquina deveria ter um botequim, não para as pessoas curtirem a bebida, mas, curtir a alma brasileira, esse grito de amor e de poesia. Continue, portanto, colocando informações que estará fazendo de nossos registros digitais e mentais.

Abraços, Prof. João R. Pontes - Presidente do Clube do Choro de Florianópolis

Luiz Henrique disse...

Olá, amigo, gostei do seu blog. Parabéns!! É sempre bom falar de samba. No entanto, esta história de que Sinhô embebedava os outros para lhe roubar as músicas, a mim me parece completamente fantasiosa. Não é nem muito justo passar isto adiante, pois acaba tirando o prestígio deste que é o maior compositor do início do século passado. Deve ser intriga da oposição: Donga, Pixinguinha, Heitor dos Prazeres e outros que, na década de 20, não alcançaram nem a metade do sucesso que Sinhô fez, e portanto, depois de sua morte, despeitados, começaram a desmorarizá-lo. Eu fiz um trabalho recente sobre Sinhô, estudei um pouco a sua obra, e, em sua maioria absoluta, nota-se um fio de melodia que liga uma a outra. Não me lembro de ter ouvido falar desta história de embebedar os compositores. Se se parar para pensar, dá pra concluir que é completamente ilusória. Só faltou então aos seus adversários afirmarem que Sinhô tinha um gravador digital no bolso para lhes roubar as músicas. Quanto a história de se apanhar trechos de música dos outros, na época todos cultivavam esta prática. Inclusive Donga que registou "Pelo Telefone" em seu nome, quando, na verdade, foi composta também por Sinhô e outros da casa da Tia Ciata.

Abraço,

Luiz Henrique

Artur de Bem disse...

Luiz, prazer!

Se leres isso, como eu posso ter acesso a esse material sobre o Sinhô?

Abraço e obrigado pela contribuição!

Luiz Henrique disse...

Como já se passou muito tempo e entrei neste blog novamente somente hoje, não sei se o recado anterior é pra mim e nem mesmo sei se já enviei o CD sobre Sinhô para você. Se ainda não tiver o CD e estiver interessado, entre em contato comigo através do twitter @cantorLH, ou pelo orkut e a gente combina.
Abs,
LH