segunda-feira, 1 de junho de 2009

Plágio

Antigamente as escolas de samba daqui desfilavam com sambas do Rio, do ano anterior.
Com o tempo, o pessoal daqui colocou na cabeça que poderia compor. E compunham, realmente.
Alguns, malandros, tinham contatos com sambistas do Rio e iam frequentemente para lá. Como eram 1 ou 2 que o faziam, eles voltavam, vez ou outra, com um samba existente em alguma escola no Rio, e um pouco da letra alterada pra colocar o nome de suas escolas de Floripa.
Atitude ilícita ou malandragem? Talvez os 2.

E isso é (de)mérito de todas as escolas.
Dizem, até, que o hino da Copa Lord é plágio. Só que nunca conseguiram provar. Talvez por não conseguirem, talvez por respeito ao mestre Avez-vous.

Só que esses dias eu ouvi um samba que me soou familiar. Samba "Devagar" de Noca, Colombo e Edir, lá da Portela, gravado no álbum Portela 71.


Pode ser só impressão. Mas esse samba me lembrou um samba que a Velha Guarda da Coloninha canta.

Mas isso é comum. De vez em quando eu ouço um samba e me lembro de outro sem ser plágio um do outro. As vezes 1 compasso igual já me faz lembrar de outro.


Historinha
Sinhô é famoso pelo samba "Jura", mas famoso também por brigas e intrigas entre os outros sambistas da época, e por acusações de roubos e plágios de sambas.

Se não me engano esse caso foi com ele, Sinhô, autoproclamado Rei do Samba.
Quando alguém aparecia no buteco com algum samba novo, ele ficava com o sujeito cantando o samba novo por várias e várias vezes, enquanto um amigo ficava num biombo, escondido, escrevendo a partitura do samba. De lá eles saíam pra registrar o samba e o verdadeiro compositor ficava no bar, bêbado.

Outra historinha
Mano Edgar, também fundador da Deixa Falar, é autor de uma batucada famosa nas rodas de samba do Estácio: “Quando eu morrer / Não quero choro nem nada / Eu quero ouvir um samba / Ao romper da madrugada”

Em 1933, Noel Rosa “tirou cola” do samba e compôs Fita Amarela, que faz sucesso até hoje: "Quando eu morrer / Não quero choro nem vela / Quero uma fita amarela / Gravada com o nome dela"

Mas, no ano anterior (1932), Donga e Aldo Taranto já haviam feito o mesmo compondo o samba Quando Você Morrer, com a seguinte letra: "Quando você morrer / Juro que não vou chorar / Vou procurar quem me dê / O que você não me dá"

Donga, ao ouvir o samba nas rádios, foi aos jornais e acusou Noel de plágio. Mano Edgar, o verdadeiro autor, já estava morto: foi assassinado na véspera do Natal de 1931, em um jogo de ronda. E morto não fala.
Fonte:
Turma do Estácio

Um comentário:

Willian Tadeu disse...

Oi, Artur!
Na minha opinião, trata-se de uma prática pavorosa que deve ser severamente coibida no mundo do samba. Infelizmente, persiste de forma grosseira em nossa cidade, embora venha sendo enfraquecida por alguns vexames recentes. Cabe também o devido cuidado para não confundir semelhança/coincidência com plágio. Aí cabe o bom senso. Quando se trata de plágio efetivamente, de cópia proposital, de falta de competência para criar, geralmente a coisa é tão grosseira que os nossos ouvidos sangram.
Baixei o samba "Devagar" e não captei a comparação que você quis fomentar.

Abraços!