terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Xangô da Mangueira


Jandira e Xangô da Mangueira. Foto: Paulo Eduardo Neves

Xangô da Mangueira é o maior partideiro da antiga, um dos maiores partideiros ainda em atividade, grande compositor, dono de uma grande voz e o maior diretor de harmonia de todos os tempos.

O diretor de harmonia não existia só para os desfiles, mas, também, nos sambas de terreiro.
Essa história que eu contarei agora, Elton Medeiros conta com detalhes no filme do Cartola (se não me engano).

Quando um compositor fazia um samba novo ele ia para a quadra da escola mostrar o novo trabalho. Cópias da letra do samba eram distribuídas para as pastoras, para os músicos e um para o diretor de harmonia. Era formado um círculo. Silêncio absoluto. No centro somente o diretor de harmonia e o compositor, cantando seu samba, ensinando para todos. Depois de algumas passagens do samba, as pastoras já haviam aprendido a letra e os músicos já estavam afinados com o samba. Eis que surge a figura do diretor de harmonia. Quando ele percebia que as pastoras não se aguentavam mais de vontade de cantar, e que tudo estava pronto, ele trinava o apito. Era quando os batuqueiros e as pastoras entravam no samba.

O diretor de harmonia dava o sinal para que a bateria entrasse, quando achava necessário. Dava o sinal para que o mestre sala e a porta bandeira evoluíssem, quando achava prudente. Dava o sinal para que todos parassem, quando sentia que era necessário. Dava o sinal para que algum indivíduo que estava errado saísse, quando percebia que este estava ruim.
A figura do diretor de harmonia era uma das mais respeitadas na escola.

Xangô da Mangueira era um dos que mais entendia do assunto. Foi o maior diretor de harmonia de todos os tempos. Não um dos maiores. O maior. Xangô sentia o samba, assim como uma pessoa normal sente o vento na cara. Xangô era o samba.
Para se ter uma idéia do respeito que Xangô tinha, Mano Décio da Viola, do Império Serrano, citou-o em um de seus sambas. Samba muito bom, por sinal.

Junto com Zagaia, outro grande sambista da Mangueira, compôs uma quase auto-biografia. Pra não perder o costume, um partido alto. Aqui interpretado por Cristina Buarque e Terreiro Grande.

Diretor de harmonia
(Xangô da Mangueira e Zagaia)

Sou eu o diretor de harmonia
Apito para entrar a bateria
Sou eu que mando o mestre de sala
Apresentar a porta bandeira Maria

Se estou errado, me perdoa
Eu sou o samba em pessoa
Você já pensou
Quando a velhice chegar
E eu não poder mais cantar


PS.: Xangô da Mangueira nada tem a ver com o orixá. É apenas um apelido!

2 comentários:

Anônimo disse...

"Eu estou para o samba
como para a noite, está a lua
mas temo a saudade e a idade
é a verdade que me aparece nua"

André Grangeiro disse...

Lindo samba!

Parabens pelo post, no meu blog tb postei, se puder me siga la!!