domingo, 9 de novembro de 2008

De Artur de Bem para Paulinho da Viola

Querido Paulinho,

infelizmente não pude ir ao seu show aqui em Florianópolis, dia 7, na UFSC. Os ingressos haviam se acabado.

Quando eu soube que irias fazer um show na minha cidade, tratei de divulgar a informação. Mandei e-mail para a minha rede, relativamente boa, coloquei a notícia em meu blog, relativamente bem lido na cidade, e no site Agenda Samba-Choro, do Paulo Eduardo Neves, que deves conhecer, o maior site de informações de samba do país, do qual eu tenho acesso.
Fui buscar informações sobre o ingresso. Depois de 14 ligações para a UFSC, em uns 4 dias, soube que iriam começar a vender no dia 3, mesma semana do show. Como a minha mãe é professora da UFSC, pedi para ela ir comprar os ingressos. Para nossa surpresa, no mesmo dia em que começaram a vender, já haviam se esgotado (acabaram em 4 horas).

Começou o meu desespero. Liguei para a IMK, empresa que fez o anúncio, para a superintendência do Banco do Brasil, patrocinadora do show, e para a sua produção. Infelizmente não obtive sucesso.

O que me deixa triste é que o pessoal que foi ao seu show não gosta de samba. Se gostasse, também teria lotado o show do Monarco, no mesmo lugar. Mas no show do Monarco havia metade do público. Se gostasse, iria ver os shows de samba que ocorrem todos os dias da semana em Florianópolis, com uma qualidade elogiada por músicos cariocas e paulistas.
O pessoal que foi ver teu show não conhece 1/10 do que eu conheço de ti. Sendo que o que eu conheço de ti não deve chegar a 1/10 do todo.
O pessoal que foi ver teu show deve ter cantado somente Foi um rio que passou em minha vida. E nem deve ter cantado o samba completo.
O público que foi ver o teu show não tem nem idéia de quem seja Cristina Buarque, Celsinho Silva ou o sobrenome Rabello.
O público que foi ver o seu show pensa que Casquinha é apenas aquela parte crocante do sorvete. Que Chatim é o diminutivo de chato, no sotaque florianopolitano. Que Candeia é um trecho do samba que o Zeca Pagodinho canta. Que Bide é aquela peça de banheiro. Que Padeirinho é apenas aquele que faz pão. Que Zé com Fome é nome de mendigo ou de exu. Que Xangô da Mangueira é algum orixá carioca. Que Cartola só compos As rosas não falam. Que Pixinguinha só compos Carinhoso. E que Paulo da Portela será o novo puxador da escola em 2009.

Vários sambistas e chorões de nossa cidade não puderam ir ao teu show. Várias pessoas que entendem de samba não puderam ir ao teu show. Aquele que, muito provavelmente, foi o responsável por avisar mais da metade de quem foi ao teu show, eu, não pode ir ao teu show.
Agora eu mais ou menos sinto na pele o porque de Candeia ter fundado a Quilombo.

Quando eu começei a gostar e entender de samba, o que me deixava frustrado era o fato de que eu nunca iria conhecer os sambistas do Rio e São Paulo. Com sorte já consegui conversar com Monarco, 2 vezes, com Luiz Carlos da Vila, e outros sambistas, que não são da linhagem antiga.

Tu esteves em minha cidade e não pudemos nos encontrar.
Sabe-se lá quando haverá outra oportunidade.
Quem sabe um dia.
Até mais.


De seu fã,

Artur de Bem


-- 
Felicidades, um forte abraço e um grande beijo.

Artur de Bem
http://arturdebem.blogspot.com

E o povo continua cantando: "Foi em Diamantina / Onde nasceu JK / Que a Princesa Leopoldina / Arresolveu se casá..." (Sérgio Porto)

8 comentários:

Jorge Jr. disse...

Feliz sou eu que tenho a oportunidade de conversar contigo. O Paulinho também deve estar triste com isso.

Mas, egoistamente falando, sou um privilegiado em ser teu amigo e teu fã.

Abraço

"...se te chamam paradora, eu dou um novo apelido, és a minha condução, e me conduz..."

Artur de Bem disse...

Me deixasse emocionado.

Eu recebo os comentários por e-mail também. Se acontecer alguma coisa do Blogger perder este comentário, o e-mail já está salvo com aquela estrelinha.
E se der merda no Gmail, a mensagem já está gardada isso na minha memória!

Saiba que a recíproca é verdadeira!!

Abraço!

Anônimo disse...

Bélissima declaração de amor ao samba. Aposto que muitos desses q apenas cantaram "Foi um rio que..." foram ao show somente pelo fato do Paulinho ser o ganhador do Grammy.

Anônimo disse...

Retificação: Vencedor do prêmio TIM de Música.

Cleber Latrônico disse...

E ainda falam do nosso BESC. Puxa vida, agora é tudo a mesma mexa.
Só tinha família de gerente do BB.

Lindas palavras. Se eu soubesse que não tinhas ingresso, eu roubava um pra ti.

Um abraço!

Willian Tadeu disse...

Pois é, Artur! E o pior é perceber a aparência de "curiosidade pelo exótico" de boa parte desse público. Não querem ir ao show porque gostam de samba. Querem ir porque é bonito gostar... aliás, é uma das coisas que me incomodam nas cenas que vi do famigerado "O Mistério do Samba". Mas, enfim, é papo para longas horas e o fim de semestre está queimando minha capacidade de encontrar as palavras exatas para discutir questões complexas como essa. Então, páro por aqui, antes que, pelo mau uso de palavras, fale besteiras.

E o povo continua cantando: "Como Memórias de Paulinho da Viola/Ismael, Mestre Cartola/Eu vou cantando para os males espantar" (Carlinhos Careca/Jorginho Don/Picolé da Portela/Renatinho do Sambola).

Anônimo disse...

hahá
Bom Artur,
entendo tua frustração e concordo com teus argumentos.
Sei o que sentes, pois mais que ngm eu sei como és fãs do Pequeno.
Agora, eu fui, e lá encontrei ao menos uns 50 músicos amigos, sambistas, chorôes, capoeiristas, aquela raça do afoxé e maracatu, enfim, muita gente que gosta de samba e principalmente do jeitão "mimado" do paulinho da viola.
Concordo que a "elite" se privilegia, onde muitos amantes pobres do samba DEVERIAM estar.
Agora, é fato, que os shows do paulinho sempre foram assim, é diferente daquele clima que forma o Monarco e o pessoal do samba de morro.
Quando eu digo para parares de pensar no futuro e vir ver/compor a noite comigo, soltas:
- Amanhã eu trabalho.
É o preço do progresso!
E pára com essa de O grande, daqui a pouco ele te esmaga pensando que és uma formiga.
Ah! Rabello e outros sobrenomes eles até já ouviram falar, o difícil (na verdade impossível) é saberem o valor que tem Casquinha e outros. Mas isso é o Brasil todo, e cada vez vai ser pior, vai por mim!
;@

Anônimo disse...

Caro amigo Arthur,

Também não entendi.
Quando informei na CBN/Diário sobre o show, imediatamente me ligaram para dizer que não havia mais ingressos à disposição. Lamentei em seguida e também não fui ao show.
Quando fui Presidente do Diretório Acadêmico de minha Faculdade numa pequena cidade do interior Paulista (Tupã nos anos 70), tivemos o privilégio de incluí-la no 1ª Circuito Universitário promovido pela Funarte e promovemos pelo menos uns 15 show numa "onda de sonhos" da qual ainda não consegui acordar... Vinicius, Toquinho, Marilia Medalha e Trio Mocotó (lançando Tarde em Itapoã), Chico Buarque e MPB 4 juntos; Gal Costa; Caetano; Quarteto em Cy; Luiz Gonzaga, Luiz Gonzaga Junior (que virou Gonzaguinha)e Quinteto Violado juntos; Moreira da Silva; Gilberto Gil e Jards Macalé (quem era mesmo?); Elis Regina; Taiguara; e Paulinho da Viola. Lembro-me que ele trouxe um show que apresentava o seu segundo trabalho (1970), assinando sozinho 11 das 13 faixas do então LP/Vinil. Pérolas raras como - Foi um rio que passou em minha vida, Tudo se transformou, Jurar com lágrimas e Sinal fechado, um de seus maiores sucessos ("olá, como vai / eu vou indo, e você, tudo bem?"). Que Saudades... E Saudades é um sentimento que temos apenas de coisas, eventos, lugares e pessoas BOAS... Enfim, como disse o Cleber Latrônico:- "Se eu soubesse que não tinhas ingresso, eu "roubava" um pra ti".