terça-feira, 2 de setembro de 2008

Os "ismos" do Samba

Texto de Renato Martins, integrante do grupo Terreiro Grande, retirado do blog do grupo.


A discussão está lançada! Está nas ruas a campanha “ABAIXO O RADICALISMO NO SAMBA”. O aviso em todos os cantos diz: “Cuidado com o que fala Mas, como esse espaço não tem absolutamente nada a perder porque nunca se pautou pela recompensa que eles estão interessados em dar, ele segue cumprindo o papel de dizer o que bem entende, com radicalismo ou não, e tomando sempre muito cuidado. Mas não o cuidado proposto pela regra da boa convivência, mas o cuidado de atingir sempre, quem julgar necessário. E nesse intento, ele tem sido bem fiel à sua proposta inicial.

“Ismo” nº 1Saudosismo.

Esse, é praticamente a causa de toda a discussão. Existe uma leva, que não é pequena, de pessoas que simplesmente não se conformam com o fato de alguém ter mais apreço pelas coisas do passado.


No samba, o foco são as músicas antigas que algumas pessoas declaram preferência. E mesmo que o samba não tivesse pouco menos de cem anos – comparado com a música clássica européia, o samba é um bebê engatinhando, nem por isso vê-se chamar os maestros de orquestras de saudosistas -, mesmo que Noel não tivesse morrido em 37 e suas músicas não fossem tão atuais como são, mesmo que Pixinguinha não tivesse se tornado estudo obrigatório em várias universidades de música no mundo até HOJE, mesmo que não tivessem sido completados apenas pouco mais de 30 anos da morte do criador do surdo e revolucionário do ritmo, essa discussão ainda assim seria inútil. Porque música boa não é perecível, é eterna. Assim como são eternos, João da Bahiana e Mozart. E é mais absurdo se pensarmos que os atingidos por essas críticas ao saudosismo, são em sua imensa maioria, jovens que sequer tiveram o prazer de sentar-se com Bide pra tomar um chope, ou varar a noite num butiquim com o Nelson Cavaquinho, ou ouvir o Cartola lançar rabugices contra o barulho em sua casa... São jovens que sem nada disso, sentiram, com o mais puro desinteresse, a respiração da boa música, sem pensar se essa música tinha cinco ou cinqüenta anos. Porque isso jamais teve mais importância do que o necessário.

Mas, existe e sempre existiu, uma leva de pessoas que propõem a renovação como regra, como se o samba, ou qualquer música, não se renovasse naturalmente. E mais que isso, falam dessa renovação com entusiasmo revolucionário, de olhar futuro, de necessidade incontrolável em seguir os novos tempos. Besteira! Esses nem sequer pararam pra olhar a renovação transformando tudo em silêncio e naturalmente, sem que nenhum intruso precisasse propor nada.

Quem chama alguém de saudosista, tem o olho torto, como aquela trupe de intelectuais que chamou o Candeia de ultrapassado, quando este propôs mudanças radicais no curso da Escola de Samba. E nem precisou de tantos anos pra ficar claro o quanto ele estava certo.

Chamar esse pessoal de saudosista, é uma forma covarde de tentar forçar as pessoas a seguirem alguma “tendência”. Assim como é covarde dizer que ser saudosista é negar o novo. Mentira! Isso é mudar o foco da verdadeira história. E a verdadeira história diz que o novo está em todo o lugar, querendo surgir, querendo um espaço. Porém, o novo está à mercê de uma dúzia engravatada que não quer mudanças. Não querem ver o novo surgir. Não querem mudar o time, porque acham que o time tá ganhando. Então, é muito mais fácil chamar de saudosista, quem não se molda ao estilo que eles querem manter.

Por isso é que ninguém tem que ser chamado de saudosista, pejorativamente, e ficar quieto. Porque atrás desse “apelidinho” está bem mais do que a intenção de criticar. Está, sim, a nítida intenção de segregar um pessoal que, admitamos, está fazendo bastante barulho ultimamente.

Até!



Clap, clap, clap, clap, clap.....

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